Medicinal me$mo?

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A esclerose múltipla é uma doença autoimune que afeta o cérebro, nervos ópticos e a medula espinhal (sistema nervoso central). Isso acontece porque o sistema imunológico do corpo confunde células saudáveis com “intrusas”, e as ataca provocando lesões. O sistema imune do paciente corrói a bainha protetora que cobre os nervos, conhecida como mielina. Os danos à mielina causam interferência na comunicação entre o cérebro, medula espinhal e outras áreas do sistema nervoso central. Esta condição pode resultar na deterioração dos próprios nervos, em um processo potencialmente irreversível.

Ao longo do tempo, a degeneração da mielina provocada pela doença vai causando lesões no cérebro, que podem levar à atrofia ou perda de massa cerebral. Em geral, pacientes com esclerose múltipla apresentam perda de volume cerebral até cinco vezes mais rápida do que o normal.

O tratamento da esclerose múltipla é feito por meio de sessões de fisioterapia e medicamentos. E é aqui que entra a maconha.

Ou melhor, mais exatamente o canabidiol (CBD), um dos dois elementos considerados benéficos à saúde (o outro é o tetrahidrocanabinol/THC, responsável pelos efeitos psicoativos).

Em dezembro de 2017, a OMS (Organização Mundial da Saúde) declarou que o CBD não causa dependência e que, nos últimos anos, reuniu robustas evidências científicas de estudos com animais e humanos que mostram que o uso pode ter valor terapêutico para convulsões causadas por epilepsia.

De fato, ao contrário do THC, o CBD não tem efeito alucinógeno, nem provoca dependência. A HempMeds, grupo americano que controla diversos negócios a partir do uso da planta – e que trabalha só com o canabidiol –, indica o uso do derivado, com resultados positivos em maior ou menor grau e sem contraindicações, para os tratamentos de autismo, Parkinson, Alzheimer e epilepsia.

Para a esclerose múltipla, porém, os medicamentos aprovados até o momento para comercialização além do CBD também contém THC, o tal componente que é viciante, afeta os sistemas nervoso central e vascular, e chega a dobrar o risco de desenvolvimento de doenças psíquicas, como esquizofrenia e até psicose, conforme já ficou demonstrado em diversas pesquisas.

Assim, se a cannabis sativa possui mais de 500 elementos e apenas dois deles são considerados benéficos, é possível compreender que, de fato, a maconha possui elementos com efeito medicinal, mas que fumar a droga, pura e simplesmente, provoca mais um efeito alucinógeno e prejudicial do que terapêutico. Logo, a legalização precisa ser muito bem avaliada.

Confirmando o que no mundo todo tem sido observado, as universidades de Duke (EUA), Israel, Suécia e Nova Zelândia pesquisaram grupos de milhares de usuários por mais de 30 anos e observaram que o uso de maconha provoca perda de noção do tempo e espaço, além de prejuízo na memória e atenção. Podem ocorrer alucinações auditivas e delírios persecutórios.

Também reduz a capacidade de aprendizado e memorização, além de passar a desenvolver uma falta de motivação para desempenhar as tarefas mais simples do cotidiano. O uso de maconha pode lesar o cérebro, especialmente a região do hipocampo e, em um cérebro em formação como o de um jovem causa lesão neuronal, especialmente no córtex pré-frontal, responsável pelo juízo crítico, memória e aprendizado. Além disso, a maconha pode desenvolver doenças mentais graves, como a esquizofrenia.

Se há uma lesão em um cérebro jovem, haverá um cérebro adulto sub desenvolvido. O QI do usuário pode diminuir em 8 pontos.

Esta é a preocupação do governo uruguaio, segundo o psiquiatra Gabriel Rossi, representante do Ministério da Saúde daquele país, onde a droga foi legalizada. Assim como no Uruguai, em todos os países onde o uso de maconha foi legalizado, houve aumento de consumo e aumento da criminalidade e do tráfico.

Então, a quem interessa a legalização da maconha?

E é aqui que entra a questão meramente financeira, de mercado – aquela que influencia as decisões políticas. Tanto que, em diversos locais nos Estados Unidos, o uso da “maconha medicinal” não foi aprovado por médicos e sim por meio de plebiscito. Lá, 30 estados (cerca de dois terços do total) liberaram a maconha medicinal, com base no CBD; e nove (quase 20% do total) para fins recreativos. No entanto, não existe no país autorização para o uso da maconha por uma lei federal.

Apesar de diversas pesquisas realizadas a partir dos anos 1970 terem conseguido demonstrar os efeitos positivos do CBD, o interesse de grandes empresas em realizar pesquisas que demonstrem seus efeitos é menor do que em outras situações. Isso porque o canabidiol é um composto não patenteável. Assim, após ser aprovado para produção e comercialização o CBD será um produto com grande concorrência no mercado, mas não será possível ter sua patente exclusiva.

Não á toa, se hoje o mercado global da maconha movimenta US$ 30 bilhões (R$ 124,2 bilhões), os produtos com CBD representam cerca de 1% disso. Ainda assim, a acima citada HempMeds, teve um forte crescimento: no segundo trimestre deste ano, as receitas cresceram 40%, para US$ 15 milhões (R$ 62,1 milhões). Com a liberação da importação do medicamento, a empresa abriu uma subsidiária no Brasil, que basicamente faz a sua representação já que, no país, não é permitido o comércio ou plantio de maconha nem mesmo para fins terapêuticos.

Diante deste quadro, fica fácil compreender porque as restrições para o uso da maconha ainda existem e a planta continua incluída na lista de drogas mundialmente reconhecida como tal.

 

Fontes: FolhaPress & GaúchaZH