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Hoje, a ideia do suicídio e a dependência de substâncias químicas (álcool e outras drogas – cocaína, crack, maconha, ecstasy, entre tantas) devoram as almas de muitos jovens.
Esses, porém, são temas difíceis e de pouco interesse para a grande maioria, porque sempre que acontecem achamos que são problemas dos outros, ou que os outros são mais tristes e “dramáticos” (e essa é outra questão grave, porque estamos cercados de preconceitos em nossa sociedade, e nós mesmos alimentamos muitos desses preconceitos).
A maioria das famílias, envergonhadas e aflitas, tenta esconder o que acontece com os filhos. O que temos certeza é que a doença, quanto mais escondida e oculta fica, mais se desenvolve – maior é a ferida e mais cresce. Quando se busca educação (conhecimento sobre o problema) e tratamento, vemos que há recuperação e a perspectiva de saúde mental e espiritual.
Saber a relação entre uso e abuso de substâncias psicoativas e o suicídio e identificar os sinais de risco em torno desse drama social e familiar pode abrir portas para a prevenção.
Uma notícia no mês de maio/2018 (jornal Correio de Capivari) dá conta de que, numa cidade vizinha, um jovem com menos de 20 anos, usuário de drogas, tentou o suicídio com faca e foi contido. Esse tipo de ato pode ser visto como um pedido de ajuda, para tratamento médico e psicológico (por exemplo).
Ele continuou em casa e, em crise, no final de semana seguinte ingeriu soda cáustica e, mesmo socorrido, veio a óbito.
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), o suicídio é a segunda principal causa de morte entre pessoas de 15 a 29 anos de idade. O que nem sempre as autoridades médicas, policiais e a família percebem é que essas mortes poderiam ser evitadas. O suicídio é o desfecho de um processo muitas vezes agravado por transtornos mentais, abuso de álcool e outras drogas. Os dados estatísticos indicam que essas influências não são apenas uma suposição, mas realmente são devastadoras.
Em seis anos e meio que mantivemos a clínica Nova Consciência, em Capivari, infelizmente vimos a morte, de forma violenta, pelo suicídio de seis ex-pacientes, tempos após deixarem o tratamento, pessoas que abortaram (abandonaram) sua recuperação pessoal.
Essas seis pessoas estavam muito comprometidas pelo uso de drogas desde a adolescência, e devido à compulsão (do físico) e à obsessão (da mente) não conseguiam pensar em viver sem a substância de sua preferência. Na crise de abstinência e no sofrimento que dela pode advir, acabaram pondo termo ao corpo físico.
Jamais devemos ser favoráveis à liberação da maconha: a mesma porta que vende essa erva vende outras drogas, o que pode ser uma escalada para o sofrimento.
Uma frase atribuída a William Shakespeare traz significativo ensinamento em relação ao enfrentamento da vida e de nossas limitações: “Aprenda que, ou você controla seus atos, ou eles o controlarão, e que ser flexível não significa ser fraco ou não ter personalidade, pois não importa quão delicada e frágil seja uma situação, sempre existem dois lados”.
Ainda de acordo com a OMS, mais de 800 mil pessoas se suicidam a cada ano, ou seja, um caso a cada 40 segundos.
A entidade divulgou pesquisa apontando que o fator que mais predispõe ao suicídio é a depressão, mas que muitos outros aumentam a propensão, como transtornos bipolares, abuso de drogas e álcool, esquizofrenia, antecedentes familiares, contextos socioeconômicos, educacionais, pobreza ou uma saúde física frágil.
Impressionados com o aumento de suicídios em jovens, pesquisadores da Universidade da Califórnia chegaram à conclusão de que mais da metade dos suicídios era resultante do aumento de consumo de drogas ilícitas e álcool.
Arnaldo Divo Rodrigues de Camargo é bacharel em direito com especialização em dependência química pela USP/SP/GREA