Como superar um vício? Parte Final

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Dando sequência a este artigo, Miguel Lucas, português licenciado em Psicologia, apresenta algumas técnicas que podem ser utilizadas para ajudá-lo a superar o seu vício.

Identificar – É vital identificar os pensamentos (usualmente percepcionados como sendo a sua voz interior) que o irão prejudicar, atraindo-o para um comportamento destrutivo. Mesmo que esses pensamentos possam parecer amigáveis ou reconfortantes, eles devem ser reconhecidos como um inimigo. Neste processo é importante procurar padrões no seu comportamento:

O que ocorre ou o que passa pela sua cabeça antes de você tomar a decisão de iniciar uma ação autodestrutiva

Que situações funcionam como uma tentação?

Que cenários você sabe que são perigosos?

Que desculpas “lógicas” você constrói para defender a necessidade do vício?

Ao identificar os gatilhos internos (voz interior) e externos (situações) que fazem disparar a sua lista de desculpas que promovem o seu comportamento de vício, você pode tornar-se mais autoconsciente e acionar uma resposta mais adequada. Ao saber identificar a sua voz interna afável (ilusoriamente amiga), você consegue parar para refletir e resistir-lhe, não seguindo os pensamentos que vão contra o seu próprio interesse.

Registrar os acontecimentos – Depois de reconhecer os seus pensamentos e voz interior, você pode registrá-los como um meio para se conhecer melhor e familiarizar-se com os seus maus hábitos. Ao tomar consciência de alguns tipos de pensamento justificativos que o têm conduzido ao seu vício, você pode construir uma âncora positiva que lhe permita reverter o pensamento negativo e a voz interior que promovem esse mesmo vício. Uma âncora positiva, é algo que você escolhe dizer para si mesmo, ou fazer, que lhe permitem afastar-se da tentação quando se apanha a ter pensamentos desencadeadores do comportamento de vício.

Refletir e disputar – Depois de saber quais são a situações e pensamentos gatilho que fazem disparar a sua incontrolabilidade sobre o seu impulso para iniciar o comportamento não desejado, você pode tentar perceber qual a satisfação psicológica ou física na base do seu vício.

Que alívio físico lhe proporciona?

Que alívio psicológico lhe proporciona?

Do que é que você está fugindo?

Que compensação emocional lhe trás?

Está relacionado com algo preso no seu passado?

Provavelmente o seu vício foi majoritariamente aprendido. Certamente, depois de responder a algumas destas questões ficará mais esclarecido e, com essa informação na sua posse, está mais preparado para arranjar um substituto saudável para a funcionalidade do seu mau hábito. Se aprendeu a implementar na sua rotina diária algo que lhe é prejudicial, tem a capacidade de aprender um comportamento alternativo, mais adequado e assertivo.

Planejar – Sabendo as situações, os pensamentos e a voz interior que desencadeia em você o impulso para o vício, fica mais capacitado para orientar as suas ações promotoras da superação. Você pode, então, definir um plano com estratégias acerca do que fazer nos momentos em que se sinta compelido a usar ou desfrutar dos seus comportamentos indesejados. Você pode visualizar-se a dizer não.  Você pode procurar uma pessoa para conversar, um amigo certo para sair, ou realizar uma determinada atividade que sabe diminuir-lhe os níveis de stress.

Ter compaixão por você mesmo – Todos nós enfrentamos as nossas lutas e cometemos erros. Querer lidar com o vício e superá-lo é um sinal de força, não de fraqueza, e você não deve permitir que a sua voz interior autocrítica o mande abaixo por quaisquer erros ou recaídas. Lembre-se que o desejo de autopunição é um fator tremendamente forte no apego à dependência. Dar ouvidos ao seu diálogo interior mordaz, seguir as indicações depreciativas, desmotivacionais e sombrias só vai funcionar contra você, mesmo quando você  sofre um revés. Quando você tem uma recaída, não quer dizer que tudo voltou ao mesmo, apenas quer dizer que você tem de manter-se no caminho da recuperação, orientar a sua voz motivacional, agarrar-se às ações que irão conduzi-lo ao sucesso.

Reavivar o seu sentimento – A dependência entorpece a alegria de uma pessoa, assim como a dor. Inibe a capacidade de sentir algumas emoções e consequentemente impede-o de viver algumas experiências no seu dia-a-dia. O vício funciona como um tampão emocional, você deixa de experienciar alguns sentimentos, e por outro lado, por vezes acredita não tolerar outros.  Naturalmente, quando você supera um vício, algumas emoções surgirão mais vivas, você passará a sentir algumas coisas mais à flor da pele, pois a dependência encarregou-se de mascará-las.  Sentir essas emoções e obter bem-estar através delas vai fazer você ficar mais forte e restabelecer o equilíbrio emocional. Irá também reduzir a sua “necessidade” percebida da substância ou comportamento que estava alimentando o seu vício.

Inicialmente, as vozes críticas internas ficarão mais altas, atacarão o seu eu de forma mais intensa. Nesse momento você tem de ser persistente, ficar muito atento e orientar-se pelas suas âncoras positivas. No entanto, quando você perseverar nas suas ações, as vozes depreciativas irão diminuir e eventualmente desaparecer. Ao longo deste processo, você deve ser flexível, aberto e compassivo. Falar com alguém é importante, e a terapia é uma opção saudável e inteligente. Quando você luta contra um vício, desafiando as suas vozes interiores destrutivas, você fortalece o seu verdadeiro eu. Você alcança um melhor equilíbrio emocional, deixando-o mais forte em face das tentações e comportamentos destrutivos.

Mais importante: Neste processo você liberta-se de todas as correntes internas que o impedem de viver o seu pleno potencial, permitindo que procure ativamente o que pretende realizar na sua vida.

 

Fonte: Miguel Lucas em Psicologia Comportamental. Natural de Portugal, o autor é licenciado em Psicologia, que exerce em clínica privada. É também preparador mental de atletas e equipes esportivas, treinador de atletismo e formador na área do rendimento esportivo.

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