Álcool e universidade: em busca do ponto de equilíbrio

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Quando se trata da mistura de álcool com universidade, é difícil encontrar um ponto de equilíbrio – e sem trocadilho. Os excessos são frequentes nos eventos conhecidos como trotes e, claro, nas chopadas. Numa polêmica que vem de anos, algumas instituições impedem a comercialização de cerveja, vodca e afins em suas dependências, salvo em algumas situações. Mas as transgressões persistem. E quando os alunos não bebem dentro, reúnem-se nos bares do lado de fora das faculdades.

Foi em um destes pontos de encontro, o calouro de Direito Bruno Queiroz, de 18 anos, morreu ao se desequilibrar e ser atropelado por um ônibus em frente à PUC do Rio de Janeiro. Ele tinha acabado de participar do trote de boas-vindas ao curso, no mês passado. Os universitários reconhecem os riscos do lugar, mesmo sem entrarem no mérito se o jovem tinha ou não bebido.

Para a professora Zila Sanchez, do Departamento de Medicina Preventiva da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), “muitas vezes, os universitários não sabem beber. Não é o saber do ponto de vista didático. Em muitos casos, eles querem beber até cair. Percebemos que o padrão de consumo de álcool mais comum entre os universitários é o que chamamos de binge, aquele em que se ingere cinco doses ou mais numa mesma ocasião. Eles não se satisfazem com pouco. Assim como nas baladas em geral, observamos que, na faixa etária dos 20 aos 25 anos, a intenção naquele momento é desligar, ficar embriagado”.

Pesquisadora do Centro Brasileiro de Drogas Psicotrópicas (Cebrid), Zila afirma que o objetivo não é proibir que o jovem beba, porque a real questão envolve saúde e prevenção de acidentes e brigas.

Em 2010, o 1º Levantamento Nacional Sobre o Uso de Álcool, Tabaco e Outras Drogas entre Universitários, feito pela Secretaria Nacional de Políticas Sobre Drogas (Senad), já havia apontado que 36% dos jovens cursando o ensino superior tinham bebido em “binge” nos 12 meses anteriores à pesquisa. Nos 30 dias que precederam o levantamento, tinham sido 25%. Do total, 18% já haviam dirigido sob efeito de álcool. A idade média para o início do consumo, de acordo com o estudo, é 15,3 anos, embora no Brasil seja vetada a compra de bebidas alcoólicas por menores de 18.

Na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a prefeitura universitária proíbe a comercialização e o uso de bebidas em todos os campi. Neles, para a realização de eventos oficiais com consumo de álcool — como as chopadas —, os organizadores precisam comprovar que cumprem exigências que vão de permissão do Corpo de Bombeiros à contratação de serviços de segurança e de ambulâncias. A proibição vale desde 2014, quando um aluno bêbado sofreu um acidente de carro no Fundão. A prefeitura, no entanto, admite que há descumprimentos da norma.

Dentro ou fora dos campi, seja em trotes, chopadas ou baladas, tornaram-se tradição as festas universitárias embaladas por muitas doses. Muitas têm nomes sugestivos. Em abril deste ano, a recepção aos calouros de Farmácia da UFRJ foi batizada de “Farmálcool” e a descrição da festa postada no Facebook era preocupantemente clara: “Vamos começar o semestre com o melhor que sabemos fazer: beber muito e quebrar tudo”.

Zila Sanchez lembra que, na maioria dessas festas, o estímulo à bebida (e em grande quantidade) costuma ocorrer até pela forma como ela é distribuída ou vendida, muitas vezes com open bar (bebida liberada) e venda de combos que barateiam o consumo. E na faixa etária predominante entre os universitários, diz ela, a grande preocupação é a intoxicação alcoólica, que pode levar ao coma. Nessa idade, afirma Zila, é raro encontrar casos de dependência do álcool, porém são comuns relatos de “apagões”, quando jovens não se lembram de nada do que aconteceu no período em que estavam bêbados.

A pesquisadora destaque que nestas ocasiões os jovens “ficam mais sujeitos a acidentes, abusos sexuais, exposições em redes sociais…”. E destaca estudos apontando que essas intoxicações entre jovens, quando acontecem com mais frequência, aumentam as chances de, no período dos próximos dez anos, os tornarem dependentes do álcool. Nesses casos, pode haver complicações no fígado e, num uso mais crônico, comprometimento cognitivo.

 

Fonte: O Globo