‘Alterocopismo’, o paradoxo entre saúde e dependência

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Mostramos neste artigo que a natação brasileira também está no topo em relação a um assunto muito menos nobre: o doping. Ao longo dos anos, esse tipo de artimanha tem se sofisticado. Ao mesmo tempo em que as substâncias e os fármacos são aprimorados para passarem despercebidos nos exames de urina e de sangue feitos nos atletas, os próprios métodos de detecção também se sofisticam.

A prática de atividade física regular é considerada uma forma efetiva de promover saúde, qualidade de vida e prevenir muitas doenças e também colabora com a recuperação de dependentes, diminuindo o número de recaídas e de episódios de uso nocivo. Ainda assim, o uso ilícito de substâncias – medicamentos e hormônios – como artifício para ganhar competições esportivas é muito antigo.

Entretanto, não para por aí. Também é comum observamos notícias sobre o uso de álcool por atletas profissionais.

A presença de bebidas alcoólicas no ambiente esportivo é comum e faz parte desta cultura. Como fatores contribuintes citam-se comemorações típicas, como abrir garrafas de champanhe ao término de corridas de Fórmula 1, ou mesmo o consumo de cerveja que acompanha a torcida pelo futebol no Brasil. Além dos patrocínios tanto de times como de atletas pela indústria de bebidas alcoólicas.

Esta é uma relação discutida há muito tempo – um cenário paradoxo que merece muita atenção: atletas e indivíduos que praticam esportes ingerem mais álcool que a população geral, como demonstrado em diversas publicações.

Um estudo canadense mostrou que esportistas adolescentes e adultos jovens consomem mais álcool e abusam dele com frequência maior que seus pares. Algumas hipóteses que poderiam explicar esta relação se baseiam em fatores psicológicos, culturais e econômicos. De uma perspectiva psicológica, atletas sob pressão em competição ingerem álcool para aliviar a tensão. Alguns indivíduos apresentam características que os impulsionam a buscar novas e fortes emoções, sendo mais propensos a buscar desafios e experiências extremas. Sendo assim, o mesmo traço de personalidade que motiva alguém a participar de maratonas e competições poderia ser responsável por beber abusivamente.

Do ponto de vista cultural, o consumo mais intenso de álcool ainda é considerado como símbolo de virilidade além de aparentar estímulo ao espírito de time e coesão, elementos essenciais nos esportes.

Beber antes ou durante a atividade física gera riscos metabólicos importantes como comprometer a liberação de energia para a prática esportiva. Altera também a regulação da temperatura do corpo, gerando, no calor, risco maior de desidratação, e no frio, queda da temperatura interna, prejudicando claramente o desempenho. Além disso, deve-se considerar o risco aumentado de lesões pelos efeitos psicomotores dessa substância.

Após a atividade física o atleta necessita recuperar-se, com hidratação adequada e reposição de fontes energéticas. Tais fatos são mais negligenciados quando se ingere álcool após o exercício. Ainda, os efeitos da ressaca e problemas na qualidade do sono tornam o consumo de álcool abusivo um empecilho para o desenvolvimento dos atletas.

Cabe lembrar que muitos atletas de provas longas fazem uso posterior de medicamentos como anti-inflamatórios, analgésicos e relaxantes musculares, e alguns de seus componentes, como o paracetamol, não deve ser consumido concomitantemente com álcool pelos potenciais efeitos tóxicos para o fígado. Ainda uma série de anti-inflamatórios não esteroidais (ácido acetilsalicílico, ibuprofeno e naproxeno) expõem a mucosa do estômago a efeitos adversos potencialmente graves, assim como álcool, o que implica em risco ainda maior quando usados ao mesmo tempo.

Dados da literatura científica evidenciam que ingerir álcool pode levar à diminuição do uso de glicose e aminoácidos pelos músculos, interferindo no depósito de energia e no metabolismo durante o exercício. Sabe-se também que o álcool tem propriedades inflamatórias, podendo prejudicar a disponibilidade de nutrientes e diminuir a secreção de hormônio do crescimento.

 

Fonte: CISA – Centro de Informações sobre Saúde e Álcool