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A ayahuasca vem conquistando adeptos em vários locais do mundo. Ao contrário do que ocorre no Brasil, porém, onde tem seu uso liberado para rituais religiosos, a bebida está se tornando famosa por suas propriedades entorpecentes na Europa.
No litoral da Espanha, cidades como Tarifa ou Ibiza realizaram recentemente cerimônias para o consumo em solenidades com rito espiritual, onde vários grupos de pessoas se reuniram com o único objetivo de ingerir um alucinógeno que os xamãs da Amazônia já conhecem e utilizam.
Eles elaboram a bebida à base de plantas como banisteriopsis caapi, psychotria viridis e diplopterys cabrerana, para conseguir que os participantes de seus rituais cheguem ao êxtase. Um estado de delírio que alcançam mais pelo efeito da dimetiltriptamina (DMT) — nome químico da “molécula de Deus”, outro nome da ayahuasca — do que pelo misticismo ou pela magia do momento.
Segundo o médico José Ángel Moráles, um dos cientistas que mais pesquisas realizou sobre essa substância na Espanha, a DMT “pertence à família das triptaminas, ou seja, sua estrutura é análoga a neurotransmissores como a serotonina. Quando ingerida sob a forma de infusão ou fumada, provoca estados alterados da consciência”. Esse psicotrópico é encontrado em pequenas proporções de forma natural em muitos seres vivos – até mesmo o ser humano, que o produz por meio da glândula pineal em situações de estresse, razão pela qual algumas pessoas o relacionem com as visões imediatamente prévias à morte.
Embora essa substância seja mais intensa que muitas drogas ilícitas, o seu “barato” dura menos tempo. O psiquiatra norte-americano Rick Strassman já demonstrou isso em um teste com voluntários que afirmaram que os efeitos começavam a ser sentidos em pouco segundos após a ingestão, durando, porém, apenas alguns minutos. Depois do teste, eles relataram que, durante esse curto período, viram extraterrestres, sentiram a cabeça se separar do corpo e até mesmo falaram com anjos, entre outras alucinações.
Hoje em dia existem na Espanha várias empresas e instituições dedicadas a organizar eventos onde a dimetiltriptamina é a protagonista. Sob a ideia de um “retiro”, são realizadas sessões com ayuhasca e bufo alvarius (uma espécie de sapo do qual também se extrai a substância em questão) com preços entre 195 euros (720 reais) por dia e 555 euros (2.000 reais) por três dias de elevação espiritual.
O uso da DMT, presente em preparados como a ayahuasca, não está regulamentado na Espanha. No Brasil, em 2006, o Conselho Nacional de Políticas sobre Drogas retirou definitivamente a bebida da lista de drogas alucinógenas, reconhecendo o seu uso religioso. Foram 18 anos de estudos, até a substância ser considerada segura para o consumo. A exploração comercial do produto, no entanto, ainda é proibida.
Fonte: El Paìs