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Mateus Ferraz era fisiculturista e participava de campeonatos nacionais e internacionais. Ele foi campeão paulista e brasileiro de musculação em 2016.
No dia 26 de setembro, Mateus deu entrada no Hospital São Lucas, em Taubaté (SP) com falta de ar. Segundo Marco Calcada, médico que o atendeu, o coração do fisiculturista estava inchado, e a família havia contado que ele teria feito uso de anabolizantes acima do recomendado. O tipo de anabolizante usado e se o uso atendia uma recomendação médica não foram informados pela família.
Calcada fez um desabafo no Facebook após a morte de Mateus Ferraz. Na mensagem, que repercutiu na rede social, o médico lamenta a morte do jovem e faz um alerta sobre o uso de substâncias anabolizantes. Eis o texto:
Hoje o dia foi de tristeza e derrota. O uso abusivo de anabolizantes ceifaram mais uma vida. 23 anos. Uma montanha de músculos sucumbiu sem retorno. Agora resta uma mãe desesperada, uma família destinada, uma namorada sem chão, amigos sem o amigo e nós da UTI que lutamos até o último segundo para resgatar aquela vida. Todos perdemos. Que sirva de testemunho para tantos outros que usam anabolizantes indiscriminadamente. Desgraça não acontece só com os outros.
O desabafo do médico reacendeu o debate em torno do uso de anabolizantes. Principalmente nesta era do culto ao corpo, quando exibir os músculos sarados é um dos troféus mais cobiçados.
Consultórios de nutrição esportiva chegam a registrar um aumento de 50% em seu movimento quando o verão se aproxima. Há profissionais da área que turbinam os resultados graças a uma roleta-russa química na qual se destaca o abuso dos esteroides anabolizantes. Hormônios masculinos sintetizados em laboratório, os anabolizantes estimulam a produção de proteína nas células musculares e, em sua utilização terapêutica, auxiliam na recuperação da massa corporal de pacientes debilitados por câncer ou aids, entre outras aplicações.
Nas últimas décadas, popularizaram-se muito no meio das academias, onde são chamados de “bombas” graças ao seu efeito potente no organismo. Utilizadas em alta dosagem, tais drogas funcionam como um elixir mágico capaz de transformar o físico de pessoas em um curto espaço de tempo, rendendo doses extras de força e acelerando o processo de recuperação depois dos exercícios.
Mas essa é uma terapia bastante perigosa. A lista de efeitos colaterais inclui doenças cardíacas e tumores no fígado. Devido a isso, a prescrição dos medicamentos a pessoas saudáveis é proibida pelo Conselho Federal de Medicina. Quem as receita para fins estéticos está sujeito a um processo que pode resultar, em última instância, na cassação do diploma. Alguns não se importam em correr os riscos. A forte demanda, a fiscalização frouxa e os altos lucros falam mais alto.
Os especialistas alertam: As pesquisas não validam a utilização de anabolizantes e outros hormônios e mostram que o uso indiscriminado e banalizado pode levar a doenças muito graves. Periodicamente, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) elabora relatórios para o Cremesp com os médicos que estão emitindo muitas receitas de hormônios. Isso acaba funcionando como ponto de partida para investigações de conduta. O outro caminho para chegar aos doutores das bombas é mais complicado, pois depende da denúncia de pacientes.
A sedução do atalho anabólico é enorme para quem não pensa nas consequências. O uso das substâncias, associado a um período de malhação pesada, pode render um ganho de 3 quilos de músculos em um só mês. Sem a alavanca química, uma pessoa leva um ano para obter resultado semelhante. Alguns dos médicos que receitaram os medicamentos não tiveram problemas em falar durante as consultas como o culto à estética impulsiona seu negócio.
Fonte: Veja