Café: herói ou vilão?

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Basta uma xícara de café para a dor de cabeça desaparecer. O tratamento baseado na mesma substância causou o problema como se um médico gerasse a doença e em seguida oferecesse para curá-la. Não teríamos muita simpatia para com esse profissional, tão logo descobríssemos os seus métodos. Mas é exatamente assim que atua a cafeína e muitas outras substâncias psicoativas como a cocaína, álcool, nicotina e alguns medicamentos. Prometem alívio para o problema que eles mesmos causam.

O café não oferece tanta dificuldade para interromper o uso, como acontece com a cocaína. É exatamente por esse motivo que ele não é classificado pela Associação Americana de Psiquiatria como estimulante causador de dependência. Em parte, essa é origem do problema em relação à saúde pública: não sendo visto como grande vilão, tolera-se o uso.

A cafeína é um composto químico, classificado como alcalóide, pertencente ao grupo das xantinas que, além de atuar sobre o sistema nervoso central, aumenta a produção de suco gástrico, decorrente da alteração metabólica ocasionada pela mesma. Devido ao estímulo do sistema nervoso, a cafeína favorece o estado de alerta.

Estimulante legal mais usado no mundo, a cafeína é mais comumente associada ao café e às bebidas à base de cola que contém cafeína e flavorizantes extraídos de fontes naturais (grãos de café e nozes de cola, respectivamente). O chá contém quantidade significativa de cafeína e teofilina, enquanto que o chocolate (cacau) contém quantidades relativamente baixas de cafeína e teobromina. Teofilina e teobromina são parentes químicos da cafeína.

O valor nutricional da cafeína está ligado apenas ao efeito excitante.

Em excesso, a cafeína pode ocasionar alguns sintomas como irritabilidade, agitação, ansiedade, a já mencionada dor de cabeça e insônia.

Diante deste quadro, vemos que tais sintomas são usualmente atribuídos ao estresse e dificilmente ao uso do café. Mas é exatamente isso que a cafeína produz no organismo: estresse, ou melhor, distresse. Quando entra em contato com o organismo, a cafeína provoca um aumento da produção de hormônios do estresse pela glândula suprarrenal. Entre eles, destacam-se a adrenalina e a noradrenalina, bem como os hormônios glicocorticóides, que suprimem as reações imunológicas.

Até aqui, estamos falando de cafeína usada como se fosse alimento.

Acontece que muitos profissionais da saúde sequer admitem que o café e a cafeína possam ter algum efeito nocivo. Pelo contrário, acham que têm efeitos terapêuticos. A cafeína nas mãos de um médico pode ser um poderoso remédio.

O controle do alcoolismo na atualidade é feito com medicamentos com propriedades antagonistas opióides, como o naltroxone e o nalmefene. Pois o café possui potentes antagonistas opióides, os quinídeos, que se formam durante o processo de torra do café a partir dos ácidos clorogênicos.

Pouco se sabe sobre outros efeitos dos quinídeos sobre o organismo humano, já que eles também possuem uma ação inibidora da recaptação da adenosina, atuando como antagonistas dos efeitos excessivos da cafeína sobre as células, em um efeito conhecido como citoprotetor.

Por isto, os ácidos clorogênicos e os quinídeos formados na torra adequada do café podem até ser mais importantes que a cafeína na bebida e de grande ajuda na prevenção e controle da depressão e suas consequências, como suicídio e o alcoolismo.

A adenosina é um hormônio local auto-regulável que modula (normalmente inibe) a função da maioria das células no corpo. A quantidade de cafeína em 2 ou 3 xícaras de café bloqueia 50% dos receptores de adenosina que, por sua vez, acentua os efeitos cardiovasculares causados pela nicotina. Fumantes podem ser capazes de compensar isto com o alto consumo de café, porque a maior ingestão de cafeína bloqueia mais receptores de adenosina e limita estes efeitos.

Entretanto, apesar de ser utilizada para solucionar problemas cardíacos, ajudar pessoas com depressão nervosa decorrente do uso de álcool, ópio, não podemos esquecer que a cafeína é uma droga que causa dependência física e psicológica, uma vez que, para estimular o cérebro, utiliza os mesmos mecanismos das anfetaminas, cocaína e heroína.

Os efeitos da cafeína são mais leves, porém manipula os mesmos canais do cérebro – uma das razões que pode levar as pessoas ao vício.

 

Fontes: Abic, Revista do Café e Brasil Escola