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Um estudo da Escola de Medicina da Universidade Johns Hopkins descobriu que a psilocibina, substância presente em cogumelos alucinógenos do gênero Psilocybe (que ficaram famosos nos anos 60, especialmente entre os hippies), pode provocar mais do que viagens psicodélicas duradouras. Uma única dose da droga foi o suficiente para causar mudanças permanentes de personalidade em 60% dos 51 voluntários da pesquisa.
As alterações envolveram a intensificação de um conjunto de aspectos da personalidade conhecido como “abertura”, que inclui imaginação, estética, sentimento e ideias abstratas. Segundo os pesquisadores, essas mudanças foram mais intensas do que aquelas que ocorrem naturalmente em adultos saudáveis ao longo de décadas de experiências de vida.
Para o estudo, os voluntários foram submetidos a até cinco sessões de oito horas de consumo da psilocibina, com intervalos de pelo menos três semanas entre as sessões. A quantidade do alucinógeno variava, mas ninguém sabia quanto estava consumindo. Durante cada sessão, os participantes foram incentivados a se deitar em um sofá e focar em suas experiências interiores. Para evitar distrações exteriores, eles usaram uma venda e fones do ouvido.
Foram feitas avaliações de personalidade em várias ocasiões: na hora da seleção dos voluntários, depois de um ou dois meses de cada sessão de drogas e cerca de 14 meses depois do fim dos testes. Muitas das alterações já foram observadas depois da primeira dose e perduraram por mais de um ano, o que faz o professor de psicologia Roland R. Griffiths, líder do estudo, acreditar que sejam permanentes.
A avaliação verificou não só a “abertura”, mas também outros quatro aspectos que, segundo os psicólogos, compõem a personalidade: neuroticismo, extroversão, afabilidade e consciência. Nenhum desses quatro, porém, teve mudanças significativas – mas é importante dizer que isso só aconteceu nos voluntários que encararam o efeito da droga como uma “experiência mística”, que se define como “um sentido de interconexão com todas as pessoas e coisas acompanhado por um sentimento de sacralidade e reverência”.
A psilocibina não causa dependência, mas pode gerar tolerância, fazendo com que as pessoas precisem aumentar a dose para sentirem os efeitos. Griffiths acredita que ela pode ter fins terapêuticos se usada com acompanhamento médico. Ele está fazendo estudos para ver se o alucinógeno poderá ajudar pacientes com câncer a lidar com a depressão e ansiedade, bem como ajudar fumantes a largarem o vício. “Pode haver aplicações para esta substância que nós não podemos sequer imaginar neste momento”, disse ele. “Isso certamente merece ser estudado sistematicamente”.
Alguns dos participantes relataram ter sentido forte medo ou ansiedade durante algumas das sessões, embora não tenha sido relatado nenhum efeito nocivo prolongado. É por isso que, segundo Griffiths, é necessário que o usuário receba um monitoramento de perto: se os alucinógenos forem usados sem supervisão médica, o medo e a ansiedade podem levar a comportamentos prejudiciais.
A pesquisa, aprovada pelo Conselho de Revisão Institucional da Universidade Johns Hopkins, foi financiada em parte pelo Instituto Nacional de Abuso de Drogas e publicado no Journal of Psychopharmacology.
Fonte: Superinteressante