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Uma equipe de cientistas do Scripps Research Institute, nos EUA, alimentou um grupo de ratos com ração comum e outro com bacon, salsicha, comida congelada, doces e outras guloseimas. Depois de 40 dias, os que receberam ração se mantiveram magros, e os outros, como era de se esperar, ficaram obesos.
Este grupo desenvolveu resistência à dopamina e, portanto, ao prazer causado pela comida. Então passaram a devorar as guloseimas compulsivamente, para obterem a mesma carga de prazer que conseguiam no início da dieta. Mesmo quando os cientistas começaram a dar choque em qualquer um dos ratos que se aproximava da refeição hipercalórica, eles continuavam comendo, porque nada mais no mundo importava para eles – nem mesmo o sexo. Viviam pela próxima dose de dopamina. Exatamente o que acontece com usuários de crack.
Existem 100 milhões de células nervosas no sistema digestivo, que se comunicam o tempo todo com o cérebro. Estudos mostram, por exemplo, que a gordura estimula a produção de endocanabinoides, substâncias parecidas com as encontradas na maconha. O resultado é prazer e fome.
Já o chocolate libera outro componente, a feniletilamina, similar ao das anfetaminas.
Cientistas do Brookhaven National Laboratory, também nos EUA, compararam imagens do cérebro de quem tem compulsão por comida e de quem é obeso, mas não tem um vício propriamente dito em alimentos. Quando sentiam o cheiro de seu prato favorito, os compulsivos tinham uma grande descarga de dopamina no cérebro, o que não foi observado no outro grupo. O médico Gene-Jack Wang, que conduziu o trabalho, já tinha identificado que dependentes químicos apresentam resposta cerebral semelhante quando veem imagens de alguém consumindo drogas. Isso sugere que algumas pessoas têm uma reação exagerada no cérebro quando expostas a coisas agradáveis, portanto são levadas ao vício.
As chamadas “cocaínas da cozinha” – batata frita, pão, macarrão, bolo, bolacha, chocolate, refrigerante –, são alimentos feitos de farinha, açúcar e sal que, tal qual a droga, passam por um processo de refinamento que remove fibras, minerais, proteínas e outros nutrientes, deixando apenas energia pura de rápida absorção. Os problemas à saúde também são parecidos com os que as drogas oferecem: dentro do nosso corpo, o sal, amplamente usado para realçar o sabor dos produtos, inclusive nos doces e nos refrigerantes, aumenta a pressão arterial, já que o sódio atrai as moléculas de água para si e faz crescer o volume de sangue nas artérias. Pressão alta significa maior risco de ter um derrame ou ataque cardíaco.
Já a farinha e o açúcar vão direto para o sangue. Para dar conta, o pâncreas dispara a produção de insulina, o hormônio que transforma carboidrato em glicose e depois estoca essa energia em forma de gordura nas células. O cérebro, então, libera dopamina e o resultado é uma sensação de prazer que acaba em minutos (ou segundos). Até que chega uma hora em que os órgãos desenvolvem resistência à insulina e o pâncreas precisa produzir cada vez mais para conseguir o mesmo efeito e, assim, se sobrecarregar, zerar a produção de insulina e causar diabetes.
Esse mecanismo de recompensa por dopamina começou em lá por 200 mil a.C., quando surgiram os primeiros humanos em algum lugar perto de onde hoje fica a Etiópia. Naquela época não se conseguia comer todo dia e, por causa disso, o corpo passou a estocar comida em “corcovas” de gordura, que carregamos principalmente na barriga e nos quadris. Quando aparecia comida, o excesso ficava acumulado. E para que se comesse mais do que o necessário a cada caça, o cérebro criou o mecanismo de recompensa – no caso, a própria gordura animal da carne de caça.
Como nosso cérebro não mudou muito de lá para cá, os churrascos continuam muito populares… Entendeu agora por que a imagem que ilustra este artigo não é um brócolis?
Fonte: Superinteressante