Cortando o ‘barato’

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O uso de opiáceos para aliviar dores crônicas debilitantes é um problema, principalmente por conta da dependência que causa nos usuários e as mortes por overdose. Como já sabemos, estas mortes já atingiram números tão altos que a questão é tratada como uma epidemia.

Neste cenário, a voz dos defensores da legalização da maconha se levanta, colocando a cannabis como a substituta ideal, por gerar os mesmos efeitos, porém sem danos sérios à saúde.

Entretanto, de acordo com um estudo da Universidade de New South Wales liderado por Gabrielle Campbell no Centro Nacional de Pesquisas sobre Drogas e Álcool, a solução não é tão simples assim…

A pesquisa, que acompanhou 1.514 adultos de toda a Austrália, mostrou que, no período de um ano, pessoas com dores crônicas não relacionadas ao câncer que usaram cannabis não tiveram melhoras na dor em comparação com aqueles que não consumiram a erva.

Os pesquisadores também observaram os diferentes estilos de vida, fatores psicológicos e a chamada autoeficácia de dor — a capacidade das pessoas de realizar atividades mesmo com dor. Muitos dos voluntários precisaram recorrer aos opioides. Além disso, aqueles que usavam maconha apresentavam menor autoeficácia de dor e tinham as atividades diárias mais prejudicadas.

Este tipo de questionamento do uso de maconha medicinal contrapõe diretores da Anvisa, segundo fontes da agência Estadão. O presidente da Agência, Jarbas Barbosa, deu um ultimato essa semana ao diretor de regulação, Renato Porto: se não levar o tema ao colegiado do órgão, não cuidará mais desse processo.

A discussão na diretoria colegiada é, segundo a agência, o primeiro passo para o debate público e a elaboração de normas. Pais, pacientes e associações que lutam pelo uso medicinal têm cobrado a ação.

mostramos aqui outra pesquisa comprovando que a cannabis pode mascarar temporariamente os sintomas da depressão, mas não efetivamente promover a melhora no longo prazo.

A pesquisa feita na Austrália também não coloca um ponto final na discussão. Os próprios responsáveis reconhecem que é possível que os voluntários que escolheram usar maconha já estivessem mais angustiados com a dor e apresentassem taxas maiores de ansiedade. Também é preciso levar em conta que o estudo foi realizado antes da maconha medicinal ser legalizada naquele país, o que significa que os usuários precisaram recorrer a formas ilícitas e tiveram acesso a uma erva pior, que não foi projetada especificamente para tratar a dor.

 

Fonte: Estadão