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Más notícias chegando… tudo bem, vá em frente, mas devo alertá-lo de que estou bem. Sem querer ofender, não perca seu tempo! Entenda o por quê: porque eu sou feliz.
Esses são versos de que gosto bastante, lembram um tipo de alegria que está acima de qualquer circunstância. Em compasso de ritmo pop você pode experimentar aqui enquanto continua esse nosso dedo de prosa. Você é feliz?
Existe uma alegria apaixonante nos que se dedicam ao tratamento de dependentes químicos em comunidades terapêuticas – CTs. São tantos os problemas! A maioria suporta o insuportável para continuar fazendo o que faz. Crises, doenças, falhas de caráter, manipulações, conflitos de equipe, falta de pagamento, contas a pagar, famílias abaladas quando não destruídas. À base de sacrifícios pessoais acontece nelas um brilho que é de se admirar. Senão, vejamos um exemplo: o dos gestores.
Com diferentes perfis, alguns sem nenhuma formação outros capacitados, empenham tempo, esforço, recursos. Defendem um modelo de tratamento e lutam contra o preconceito sem garantias para o trabalho que fazem. Vocação? Talento? Chamado? Ou pura teimosia? Talvez um pouco de tudo isso, mas, pensando em ajudar, decidi falar sobre competência, tendo como pano de fundo o tema básico desta seção que é gestão de pessoas.
Pois bem, enfrentar o que eles enfrentam não é brincadeira e nada indica que o uso abusivo de drogas deixará de existir na história da humanidade. Como na música em seus primeiros versos, más notícias chegam. É uma guerra complexa e ardilosa. But i´m happy, quase posso vê-los repetindo em alto e bom som. Lá vão eles na comissão de frente, salvando vidas e resistindo aos tempos maus. Parabéns!
Uma questão que se coloca é, como proteger e melhorar a qualidade desse entusiasmo? Como evitar o estresse crônico após anos de luta? O gestor precisa ver resultados, é a natureza da sua função tanto quanto a do terapeuta é promover a recuperação da saúde mental. Como adquirir mais controle e poder sobre os problemas do dia-a-dia? Nesse caso, parece que sair cantando e dançando pela rua vai ajudar muito pouco.
Honestamente, e por falar em pouco, vejo os gestores das CTs delegando pouco e delegando mal. Sem ofensas! Delegar é o segredo de ouro dos melhores executivos em qualquer negócio, de qualquer ramo de atividade. O problema é justamente saber delegar a tarefa certa para a pessoa certa nas circunstâncias certas. Isso é muito difícil de fazer em indústrias com baixa maturidade de gestão, como é o caso do terceiro setor no Brasil de modo geral. Infelizmente, por mais difícil que seja, ou o gestor aprende a confiar e a contar com as pessoas para resolver problemas críticos ou entra num processo de estagnação, desgaste e alienação da realidade que em nada combina com a genuína alegria que o move.
Mas calma, boas notícias. Maxwell Jones, psiquiatra e criador do modelo de tratamento das comunidades terapêuticas, fez uma verdadeira revolução que até hoje repercute e ainda não foi completamente compreendida. Muito mais do que inovar do ponto de vista da metodologia do tratamento Jones acreditava que o ambiente terapêutico ideal para beneficiar a recuperação do indivíduo era aquele em que a equipe se comunicava livremente, enfermeiros, homens ou mulheres, médicos e pacientes, sem hierarquia e com papéis profissionais definidos, visando reforçar comportamentos positivos em substituição às disfunções do adicto.
Ele redefiniu as dinâmicas de poder, enriqueceu as competências, e tudo movido por uma profunda insatisfação com o modelo frio de atendimento preconizado pela medicina de então. “Todos os oito anos gastos no curso de medicina e no trabalho em hospitais foram, francamente, um pesadelo. Eu odiava lidar com sofrimento físico com a tal indiferença profissional”.
Ele rompeu com paradigmas e isso serve de inspiração para validar a indignação natural de quem trabalha em condições precárias. Não estou falando em delegar para se livrar das rotinas operacionais da casa, estou falando em delegar para resolver problemas críticos e crônicos como déficit de caixa e motivação da equipe. Isso é gestão de competências. Delegar é como a pedra com que Davi matou o gigante filisteu, parece simples demais para ser verdade. Para funcionar, você vai precisar de indignação, fé e atitude. 1Sm 17: 49, “E assim prevaleceu contra o filisteu, com uma funda e com uma pedra, e feriu o filisteu, e o matou sem que Davi tivesse uma espada na mão”. (V. 50).
Em suma, um sistema de gestão por competências é uma boa resposta para o desafio de delegar com resultados. Metodologia interessante, pois sistematiza no domínio das ciências humanas (administração) uma série de boas práticas que podem ser seguidas com bastante segurança e alta previsibilidade quanto aos resultados esperados. Grosso modo, será preciso estabelecer estratégias e definir competências organizacionais. Em seguida, definir as especificidades dos produtos ou serviços oferecidos para então traçar as competências necessárias a cada atividade (UBEDA; SANTOS, 2008). Identificar as pessoas de que precisa, e começar. Se não pode contratar, ofereça parceria ou trabalho voluntário!
Sem dúvida, as Comunidades Terapêuticas têm sido grandes aliadas na recuperação de dependentes químicos. Desde seu surgimento no Brasil, já foram mais de um milhão de pessoas beneficiadas por seus tratamentos. Portanto, não é uma questão de ser ou não ser competente, é uma questão de usar as competências certas para enfrentar as questões mais difíceis, fortalecer as instituições de modo sustentável e definitivo. Para satisfazer os requisitos do marco regulatório recém-aprovado, por exemplo, será preciso trabalhar melhor e mais profissionalmente.
Boas notícias! A alegria de romper com paradigmas está no DNA das comunidades terapêuticas. Que se cumpra o belo chamado desses guerreiros gestores. Que se faça a gestão das competências, que os gigantes caiam por terra e que dure para sempre essa alegria que alcança tantas pessoas desenganadas, enchendo o mundo de esperança e paz.
Clap along, if you know what happiness is to you. Because I’m happy…
RACHEL HERINGER SALLES é administradora especializada em gestão pública e gestão de recursos humanos. Atual responsável técnica do Plano Estratégico da Saúde do Distrito Federal, é executiva no grupo Intelit Smart Group. Ama dedicar-se ao terceiro setor de modo geral, em especial sua igreja e tudo relacionado à drogadição.