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Há mais de um ano, uma equipe de médicos da Santa Casa de São Paulo está testando, em dependentes de crack, um tratamento contra a depressão desenvolvido nos Estados Unidos.
Nada de remédios.
A técnica é conhecida como Estimulação Transcraniana por Corrente Contínua (ETCC) (em inglês, Transcranialdirect-current stimulation – tDCS).
A tDCS é uma forma de neuroestimulação que utiliza corrente elétrica baixa e contínua emitida diretamente na área cerebral de interesse, através de pequenos eletrodos. O procedimento foi desenvolvido inicialmente para ajudar pacientes com lesões cerebrais, como derrames. Testes em adultos saudáveis demonstraram que a técnica pode aumentar a performance cognitiva em diversas tarefas, dependendo da área do cérebro que é estimulada. tDCS tem sido utilizada para aumentar as habilidades linguísticas e matemáticas, a atenção, resolução de problemas, memória, e coordenação.
Os eletrodos instalados na testa do paciente enviam ondas elétricas até as áreas do sistema nervoso central, que regulam o comportamento. Os neurônios, as células cerebrais, reagem ao estímulo e voltam a funcionar em níveis normais. Na depressão, eles têm atividade baixa e na ansiedade, alta.
Durante este período de testes, como a técnica apresentou bons resultados – especialmente nos casos de depressão e transtorno de ansiedade – os médicos viram aí uma possibilidade de usar o mesmo tratamento para ajudar o usuário do crack a largar o vício, a vencer uma das principais barreiras, a sensação de fissura, a vontade incontrolável de consumir a droga.
“O que motivou a gente a iniciar essas pesquisas é o fato de todos esses pacientes partilharem algum sintoma em comum. Por exemplo, sintomas ansiosos, sintomas depressivos são muito frequentemente observados em pacientes usuários de crack”, conta Pedro Shiozawa, psiquiatra da Santa Casa de São Paulo.
Um paciente que usou crack por dez anos e foi internado duas vezes – sem êxito, pois não conseguiu largar a droga – teve o apoio da família e de uma ONG para fazer o tratamento.
Com os eletrodos instalados, ele assiste a um vídeo com imagens da droga que, normalmente, provocam fissura nos usuários. Com as ondas elétricas, ele diz que o desejo incontrolável não aparece.
“Não vem fissura, não vem o desejo da droga. Creio que isso com certeza ajuda, sim. Porque vai ficar gravado, na memória da gente, que a gente conseguiu driblar esse momento e não sentir a fissura”, conta.
O médico ressalta que não se trata de cura, mas de uma nova ferramenta para ajudar os usuários a se livrarem da droga. “A ideia nossa é, claro, não deixar esses dados só no meio médico. Mas pleitear junto ao Conselho de Medicina a aprovação dessas estratégias, junto com outras comunidades terapêuticas, lugares que façam tratamento para otimizar a resposta dos doentes”, afirma o psiquiatra.
Fonte: Psicoterapia Sistêmica