O desafio do crack

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O crack surgiu em 1984 e 1985 em bairros marginalizados e pobres de Miami, Los Angeles e Nova York, tendo como precursor a cocaína na forma de base livre ou “freebasing”. Chegou ao Brasil no final de 1989 em São Paulo na região da Estação da Luz e sua primeira apreensão foi realizada em 1990.

Passados 25 anos o perfil do usuário de crack mudou de jovens sem emprego, com baixo poder aquisitivo, baixo grau de instrução e com histórico em múltiplas drogas para usuários em todos os segmentos da sociedade, não é mais somente uma droga das ruas. Sendo uma das drogas com maior potencial de causar dependência em relativamente pouco tempo e que depois de inalada os seus efeitos já surgem em 5 ou 6 segundos, o crack “bate mais forte”, como sugerem alguns, ficando este efeito por até 20 minutos, surgindo, em seguida, a compulsão e obsessão de fumar novamente.

A trajetória da violência urbana está intimamente relacionada às transformações fundamentais na venda e no consumo de crack e outras drogas ilícitas. Nos últimos 30 anos mais de 400 mil jovens de 14 a 25 anos morreram assassinados em todo o Brasil¹, sendo que destes, até 50% está relacionado ao tráfico de drogas e 65% com o envolvimento do crack. A Lei das Drogas 11.343/2006 não criou critérios quantitativos para a diferenciação de usuário e traficante e, desde que foi promulgada, o número de presos triplicou². A nossa Política Pública sobre Drogas é ineficaz e ineficiente, não está relacionada com a dinâmica imposta pelo comércio de drogas ilícitas, principalmente o crack, as estruturas em rede do tráfico com uma série de conexões fazem transparecer uma organização na própria pseudo-desorganização.

O crack por si só não é uma epidemia… o crack é uma epidemia moral e social. Moral porque a sociedade não pode estigmatizar o usuário de crack como um pária, não podemos mais virar as costas para um problema visível aos nossos olhos e que precisa de total colaboração entre a sociedade civil organizada e o setor público e social, pois se não mudarmos o modelo fracassado da atual política sobre drogas com grandes investimentos em informação, prevenção e educação estaremos somente corroborando com a violência urbana, corrupção e exclusão social.

 

¹ Weiselitz, JJ (2013): mapa da Violência: Homicídios e juventude no Brasil.

² Departamento Penitenciário do Ministério da Justiça.

 

perfil 3PITI HAUER é advogado com formação pela UFPr e habilitação específica em Ciências Penais, especializando-se em Dependência Química na UNIFESP; Membro do Conselho Estadual de Políticas Públicas sobre Drogas no Paraná, Colunista do Paraná Portal – “Vamos falar sobre Drogas?”, Conselheiro da COMPACTA (Comunidades Terapêuticas Associadas de Curitiba e região metropolitana) e com Curso de Extensão ao Crack: Tratamento e Políticas Públicas pela UNIAD.