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A dependência química é uma doença mental caracterizada, entre outras coisas, por um desejo irresistível de usar drogas. Essa total falta de controle sobre os comportamentos é conhecida como compulsão. O que a maioria das pessoas não compreende é o fato de que pessoas com esse transtorno não param de usar drogas por não conseguirem e, não, simplesmente porque não querem.
Infelizmente, a doença mental é muito pouco conhecida para o grande público. É muito comum pensar na doença como algo físico, que se pode ver ou sentir. Mas e quando a pessoa não percebe? A dependência química é uma doença sutil e de difícil detecção que, aos poucos, vai distorcendo o caráter do dependente e adoecendo também os que estão à sua volta.
Por vivermos em uma cultura de drogas, é comum ver pais e cônjuges esperando a “fase” ruim passar. Pedem desesperados ao dependente de álcool ou drogas a promessa de que nunca mais usará. Mas a fase não passa e as promessas nunca são cumpridas. Ainda assim, as pessoas próximas tentam explicar que não pode, que faz mal, que estão falindo com as constantes perdas de carros, cursos inacabados, vendas de aparelhos eletrônicos, roupas e de tudo dentro de casa que pode gerar dinheiro.
Mas nada disso resolve e elas se sentem culpadas, impotentes, frustradas. Começam a faltar ao trabalho, a se isolar. Tornamse agressivas e começam a mentir para encobrir a doença do dependente químico. Fazem tudo, menos procurar a ajuda de um profissional especializado. Essa é a chamada codependência, também uma doença mental e, às vezes, tão triste quanto a própria dependência química.
Essa doença é causada por uma dependência emocional de estados como raiva e frustração, que o familiar desenvolve. É caracterizada por uma obsessão por controlar a vida do adicto. E eles chantageiam emocionalmente, choram, brigam, mas no fim sempre acabam dando mais uma chance, pois acreditam que “amanhã ele vai parar”.
A melhor forma de lidar com essa situação é não deixar que ela se agrave dessa maneira.
As pessoas mais saudáveis da família devem perceber alguns sintomas (ver detalhes abaixo*) e procurar ajuda de um psicólogo ou psiquiatra especializado no assunto. É necessário vencer o preconceito sobre esses profissionais já no início, porque só o amor e a compreensão dos familiares não bastam neste momento.
Além disso, é muito importante que a formação do profissional seja voltada para a dependência química, caso contrário, o paciente também poderá manipulálo. É muito comum ouvir de profissionais que desconhecem os perigos da doença falarem para a família: “agora ele vai ficar bem, ele prometeu só fumar maconha e tomar uma ‘cervejinha’ com os amigos”…
A primeira providência importante é marcar uma consulta e pedir para acompanhar o dependente até o consultório. Caso o usuário se recuse a ir, o familiar deve ir sozinho, contar o que está acontecendo para o profissional avaliar a necessidade de uma intervenção. Se o paciente ainda está no começo do uso ou abuso, mas consegue estudar e/ou trabalhar, se mantém um relacionamento afetivo estável e cumpre suas obrigações, o tratamento ambulatorial é mais aconselhável. Isso porque esses vínculos são saudáveis e motivam o paciente a permanecer em recuperação.
Neste caso, o paciente passa por um psicólogo uma ou mais vezes por semana, frequenta grupos de apoio e pode também ser acompanhado por um psiquiatra. Mas se ele se recusar a ir, quem precisa começar a mudar comportamentos são os pais ou cônjuges, em relação ao usuário.
Grupos como o Amor Exigente e o Nar-Anon ajudam as famílias a se reestruturarem e ensinam como colocar novas regras e limites.
Dependendo do caso, se a pessoa aceitar o tratamento, é também indicada uma internação em uma comunidade terapêutica ou clínica voluntária. Mas se a pessoa se recusa a aderir a qualquer tratamento, uma internação involuntária (sem sua aceitação) ou compulsória (judicial) fazse necessária. Essa decisão deve ser tomada se a pessoa apresenta alguns dos sintomas abaixo:
1) compulsão, ou seja, dificuldade em controlar o consumo da substância apesar das conseqüências danosas;
2) síndrome de abstinência com quadros de sudorese, tremor nas mãos, insônia, náusea ou vômitos, alucinações, agitação psicomotora, ansiedade e convulsões;
3) tolerância, que é o aumento da quantidade para obter o mesmo efeito anterior;
4) abandono de outros interesses em prol do uso da substância.
Esses são os sintomas da dependência química e indicam que a pessoa está doente e nãopossui mais controle sobre sua vontade. Decidir pela internação geralmente é mais difícil para a família que para o próprio paciente, mas é uma medida necessária e, muitas vezes, é a última chance que a pessoa tem de entrar em recuperação e salvar sua vida.
(*) Sinais para procurar ajuda:
Achar ou saber por outros sobre o uso de drogas do filho ou cônjuge.
Ter casos de dependência química na família (pais, tios ou avós).
Depressão ou crises de ansiedade.
Reação desproporcional a críticas reais ou imaginárias.
Dificuldades para cumprir compromissos e horários.
Incidentes, faltas injustificadas ou demissão do trabalho.
Abandono da escola ou faculdade.
Brigas ou acidentes de trânsito.
Acúmulo de dívidas ou contas a pagar.
FREDERICO ECKSCHMIDT é psicólogo, especialista em dependência química e mestrando pela Faculdade de Medicina da USP. Possui pós-graduação em Social Health, pela Harvard University e é também é sócio-diretor do Núcleo Synthesis. Email: frederico@nucleosim.com.br
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Interessante.
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Interessante a materia !
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Devemos procurar ajuda sempre que nos mesmo ou conhecidos apresentam certo sintomas de dependência química, muito bacana seu artigo, parabéns !