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A busca da felicidade impulsionou o desenvolvimento da cultura, das religiões e das ciências para melhorar nossa relação com a Natureza e promover a saúde e o bem-estar.
Para essa mesma finalidade, também foram descobertos ou criados medicamentos potentes que inibem a dor e outros sintomas, como as drogas que atuam no sistema nervoso central, conhecidas como psicotrópicas. O sistema de classificação mais simples foi proposto em 1971 por L. Chaloult, no livro Nouvelle classification des drogues toxicomanógenes, que as divide em três tipos:
Excitantes: usadas para inibir o sono e promover a aceleração do organismo e dos processos mentais, por exemplo, a cafeína e a cocaína e as anfetaminas, como o ecstasy (MDMA).
Depressoras: reduzem a atividade do sistema, funcionando como analgésicos e calmantes, como os barbitúricos, os narcóticos (opiáceos) e o álcool.
Alucinógenas: atrapalham os pensamentos e induzem estados alterados da consciência em rituais religiosos, de cura ou comemorativos, como a maconha, o LSD, alguns cogumelos e cactos.
Substâncias psicotrópicas podem ser lícitas, ilícitas ou controladas, conforme já mostrei neste artigo. Segundo o manual de diagnóstico DSM IV, as pessoas podem usar, abusar, criar hábito ou tornar-se dependentes de uma substância. No caso de drogas ilícitas, qualquer uso já é considerado um abuso de substâncias, e todas elas podem causar dependência, física ou psicológica. Como já foi abordado anteriormente, um dos motivos para a instalação de uma dependência, é o vazio existencial e a falta de um sentido para a vida.
A dependência química é uma doença muito grave que pode apenas ser controlada com a abstinência de drogas. Para isso, é fundamental que a pessoa encontre um novo significado para sua vida, que preencha o vazio e enfrente o sofrimento que foi, durante anos, amortecido com as drogas. É onde entra a importante busca de compreensão espiritual dos fatos e da própria vida.
Um dos primeiros pesquisadores a falar da espiritualidade como ferramenta terapêutica para tratar a dependência química foi William James (1842-1910). Já no começo do século 20, ele dizia que uma conversão religiosa poderia fazer um dependente químico parar de beber, por exemplo.
O psiquiatra e psicólogo suíço Carl Jung (1875-1961) afirmou, pouco depois, que a religiosidade é uma característica da natureza humana e que a falta dela causava neuroses e inúmeras outras doenças. Ele dizia que só um verdadeiro despertar espiritual poderia trazer a saúde psíquica e livrar as pessoas dos vícios químicos e emocionais.
Do ponto de vista psicológico, a espiritualidade pode ser compreendida como uma forma de instrução e orientação íntima pessoal e social. Ela pode ou não estar ligada a uma religião específica e simbolizar a presença de um Criador de inúmeras maneiras.
A espiritualidade se distingue da religião, porque esta última está mais ligada a interpretações e ritos específicos. Uma pessoa pode ser religiosa, mas não saber o que significa espiritualidade e uma pessoa pode ser espiritualmente madura e não ter nenhuma religião. Deus também será visto de diversas maneiras, dependendo da educação e tradições em que a pessoa está inserida e de suas crenças pessoais. Em certos segmentos cristãos, ele algumas vezes é imaginado como naquela imagem de Michelangelo: com barbas longas e brancas. Na Índia, pode-se imaginá-lo azul escuro e tocando flauta, como na eternamente jovem forma de Krishna. Pode-se inclusive não lhe dar forma alguma e senti-lo como um poder ou uma energia que tudo permeia na Natureza e no Universo.
O principal é que a vida de uma pessoa ganha, a partir de uma experiência espiritual, um novo sentido e significado. E este é, sabidamente, um bom caminho para o dependente químico livrar-se do prazer imediato do uso de drogas e lançar-se à aventura de uma vida feliz sem elas.
FREDERICO ECKSCHMIDT é psicólogo, especialista em dependência química e mestrando pela Faculdade de Medicina da USP. Possui pós-graduação em Social Health, pela Harvard University e é também é sócio-diretor do Núcleo Synthesis. Email: frederico@nucleosim.com.br