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Quando a televisão surgiu no século 20 os pais de então ficaram muito preocupados. O aparelho, entretanto, conquistou seu espaço. Já no século 21 a preocupação dos pais é o avanço da internet que, assim como a TV, também conquistou seu espaço.
E, da mesma forma que os aparelhos televisivos, tablets e smartphones fazem parte do cotidiano de muita gente com as devidas consequências boas e más, como a nomofobia – o pavor de estar sem o telefone celular disponível –, assim como o “boom” da miopia – que pode ser creditado à falta de exposição solar –, e a questão do sono, já que os aparelhos eletrônicos estimulam o adolescente dormir menos, e isso afeta a saúde física e mental.
Já mostramos neste artigo que os sinais da dependência tecnológica muito se aproximam dos casos de dependência química: a pessoa geralmente apresenta sinais de irritabilidade, ansiedade, isolamento e angústia por ficar desconectado ou distante do celular, computador ou videogame.
Mas e se o vício em smartphones for um problema hiper-social, e não antissocial?
Essa é a opinião do professor Samuel Veissière, antropólogo cognitivo que estuda a evolução da cognição e da cultura. Em matéria publicada no site Medical Xpress, Samuel explica que o desejo de assistir e monitorar os outros, mas também de ser visto e monitorado por outros, corre profundamente em nosso passado evolutivo. Os seres humanos evoluíram para ser uma espécie social única e exigem a contribuição constante de outros para buscar um guia para um comportamento culturalmente apropriado. “Esta é também uma maneira de encontrar significado, objetivos e um senso de identidade”, escreveu ele.
Corroborando a tese do professor, Veissière e Moriah Stendel, pesquisadores do Departamento de Psiquiatria da Universidade McGill, no Canadá, revisaram a literatura atual sobre o uso disfuncional da tecnologia inteligente através de uma lente evolutiva e descobriram que as funções mais viciantes dos smartphones tocam, justamente, no desejo humano de se conectar com outras pessoas.
Veissière concorda que o ritmo e a escala da hiperconectividade empurram o sistema de recompensas do cérebro para funcionar com o excesso de velocidade, o que pode levar ao vício: “As necessidades pró-sociais e de recompensas [do uso de smartphones como meio de conexão] podem ser igualmente sequestradas para produzir um teatro maníaco de monitoramento hiper-social”, escreveu em seu artigo publicado na revista Frontiers in Psychology.
Para Veissière, existe “muito pânico em torno deste tópico”. Os smartphones aproveitam uma necessidade normal e saudável de socialidade que todos nós temos e, assim como com qualquer coisa, é o excesso que causa problemas. Por isso, o professor afirma que sua pesquisa está “tentando oferecer boas notícias e mostrar que é nosso desejo de interação humana que é viciante e há soluções bastante simples para lidar com isso”. Ele acredita que, em vez de “regular as empresas de tecnologia ou o uso desses dispositivos, precisamos começar a conversar sobre a maneira apropriada de usar smartphones”. Veissière também sugere que “pais e os professores precisam ser informados sobre o quão importante é isso”.
Desligar as notificações e definir horários adequados para verificar o seu telefone pode nos ajudar a começar a recuperar o controle sobre o vício. Pesquisas recentes sugerem que as políticas no local de trabalho que proíbem os e-mails à noite e aos fins de semana também são importantes.
Fonte: Medical Xpress