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Normalmente, quem está com um problema de saúde procura um tratamento. Mas quando a pessoa não tem condições de tomar essa decisão, é correto que alguém decida por ela?
De acordo com os especialistas, a internação involuntária é necessária em alguns casos e tem ajudado na recuperação dos dependentes químicos. Segundo alguns ex-usuários, o caminho para não usar mais drogas está, muitas vezes, em ajudar os outros usuários a também superarem o vício.
A internação involuntária da dependência química e alcoolismo costuma ser vista pelas pessoas como uma agressão ao outro, uma estratégia que fere o direito de escolha de quem necessita de amparo para se libertar das drogas, mas não consegue reconhecer isso. E, por este motivo, muitas famílias preferem não aderir a esta modalidade, mesmo tendo consciência das necessidades de seus entes queridos.
Talvez o problema esteja na falta de conhecimento sobre o assunto, tanto do ponto de vista legal quanto do ponto de vista da saúde.
No primeiro caso, o legal, a internação involuntária se enquadra na lei 10.216, que preconiza esta possibilidade caso o indivíduo esteja colocando em risco sua vida ou a de outrem. No segundo caso, o da saúde, sabe-se que a internação involuntária de um dependente químico é real, porém o seu tratamento efetivo é voluntário, ou seja, só haverá um processo de recuperação se houver o desejo do paciente em desenvolvê-lo. Caso contrário, o paciente se submeterá involuntariamente às normas e regras pré-estabelecidas pela instituição, no entanto, não se motivará a manter-se abstêmio uma vez que esteja fora do ambiente protegido.
Mas existem dois outros aspectos que devem ser considerados: um ligado à família e outro à instituição.
De um lado a família, já adoecida quando cogita este tipo de intervenção, cansada de tentativas fracassadas, insucessos constantes, perdas materiais e emocionais e progressão da codependência enquanto doença emocional e comportamental que é, e do outro lado a instituição, que muitas vezes em detrimento à lucratividade passa a acolher indiscriminadamente pacientes, apesar de terem o entendimento de que nem sempre a internação naquele lugar seria a melhor opção.
Em nome de “proteger” a vida do outro e preservar um pouco da dignidade familiar, dando-lhe um período de quatro a seis meses de, digamos, “merecido descanso”, algumas instituições acabam por receber pacientes recidivas vezes, por anos a fio até, desconsiderando os riscos de institucionalização eminentes, que poderiam ser talvez amenizados quebrando-se ciclos, tentando novos lugares, de maneira a não contribuir para que pelo reiterado conhecimento do ambiente, das regras, da equipe e dos pares o paciente venha a associar a estada como um local tão familiar que torna-se ineficaz, ao propósito primordial que deveria ser tratar a dependência química.
No caso dos adolescentes, que muitas vezes com um ano de uso habitual, eles ainda vêm acompanhados por seus responsáveis, que completamente inábeis e desconhecendo os aspectos da doença, já veem numa internação a única solução para a intervenção no processo de abuso do jovem. Nestes casos, a ausência de uma triagem séria, leva adolescentes que estão no início do desenvolvimento da dependência química, a se internarem com dependentes que já possuem um vasto histórico de uso e abuso de múltiplas drogas e significativos números de internações o que poderá surtir num efeito absurdamente contrário, já que o tratamento tem como base a identificação.
E o que é pior, se fosse feito um levantamento nas clínicas, se observaria que a grande maioria dos Laudos Circunstanciados que respaldam as internações é fornecida por psiquiatras da própria instituição, que não raramente ainda cobram por este serviço.
Dentro deste viés está a mercantilização do tratamento, um inimigo cruel que se encontra velado por “boas intenções”, mas que originalmente tem como objetivo primordial o dinheiro e não o bem-estar do indivíduo afetado pela doença.
Fonte: Laura Maffei via Blog da Febract (Federação Brasileira de Comunidades Terapêuticas)