Pornografia: uma obsessão que destrói e atrapalha

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Jim (nome fictício) tem 31 anos e é virgem. Mas diz já ter visto absolutamente todo tipo de ato sexual.

O britânico é viciado em pornografia. “Você pode experimentar coisas com uma completa ausência de consequências”, disse ele sobre o espaço privado oferecido pela internet.

“Quando era adolescente, nunca tive coragem de ir até uma banca e comprar uma cópia da FHM (revista masculina britânica que parou de circular em papel em 2015). Naquela época, procurar por imagens eróticas já me consumia havia muito tempo”, contou. “Há 15 anos era assim: ou você tinha experiência sexual ou não tinha nenhuma. Hoje, há pessoas como eu, que nunca fez (sexo), mas já viu de tudo”.

Jim relatou à BBC o efeito devastador do vício que o consome depois que passou a procurar material de sexo explícito online, afirmando, por exemplo, que a pornografia o impediu de “funcionar normalmente”.

Pessoas como ele carregam toda a expectativa de como o sexo deveria ser construído a partir da indústria pornográfica. “Não acho que isso tenha qualquer tipo de consequência saudável”. De fato, para muitos, pornografia faz parte de uma vida sexual saudável, mas, para aqueles como Jim pode se tornar uma obsessão que destrói relacionamentos, amizades e atrapalha empregos.

E tem mais: ao assistir a mulheres sendo tratadas de forma agressiva na tela, Jim confessa ter mudado o jeito que ele as trata na vida real. Após assimilar mensagens, por meio da pornografia, de que as mulheres são essencialmente objetos, ele passou a acreditar que mulheres “são suas essencialmente para ser possuídas”, disse.

“Eu acumulei uma enorme quantidade de ressentimento e raiva em relação a meninas. Havia algo dentro de mim que dizia que essas mulheres deveriam ficar comigo. Há um monte de irritação, pensamentos violentos e negativos”, completou Jim.

E, enquanto tenta se livrar do vício, Jim afirma que pornografia consome tempo. “É muito fácil perder uma tarde para assistir pornografia e esticar por toda a noite. Se eu tinha chance, o céu era o limite”. Ele recorda que aos 20 e poucos ficava até de madrugada assistindo a filmes pornô. Era comum acordar tarde para ir trabalhar. Ou chegava muito atrasado, ou ligava para o chefe dizendo que estava doente e faltaria ao trabalho.

Ele conta que, além da pornografia começar a ter um impacto enorme em sua capacidade de ser produtivo, também fez dele um amigo pouco confiável, a ponto de perder uma amiga porque se esqueceu do aniversário dela por anos seguidos.

Para Jim, se o vício é tudo o que importa, normalmente o viciado se torna insensível em relação aos sentimentos e necessidades das outras pessoas justamente por estar envolvido exclusivamente nas próprias necessidades: “Eu acho que se você é um viciado, você é, de diferentes maneiras, tóxico”, conclui.

Em seu relato à BBC, Jim confessa que, num primeiro momento, a pornografia lhe proporcionava um sentimento bem-estar mas que, em seguida, o fazia sentir péssimo.

“Esse sentimento de culpa, vergonha e autoaversão realmente começa a te corroer por dentro. Cheguei a um ponto no qual estava realmente cansado disso tudo”. Então, ele procurou ajuda e passou a se tratar com uma terapeuta. Quando falou com a BBC, havia cinco meses que estava sem se masturbar ou assistir a filmes pornô.

Agora, Jim acredita que só vai conseguir se relacionar com alguém quando excluir a pornografia da própria vida para todo e sempre: “Eu nunca tive relações sexuais, uma parte de mim está feliz por isso porque há muitas ideias que agora estou tirando da minha mente”.

Depois de perder o controle da própria vida por conta do vício em pornografia, Jim acredita que está melhorando e diz ser absurda a quantidade de tempo livre que tem agora: “Minha vida agora é administrável. Posso lidar com isso. Eu sou capaz de trabalhar mais horas, de fazer outras coisas que eu realmente gosto”. Entre elas, a leitura e a busca por um relacionamento saudável com “outro ser humano real”. E quer estar em um relacionamento com esse ser humano real e não com “uma ideia que eu tenho de como deve ser esse ser humano. Então é nisso que eu estou trabalhando”, concluiu.

 

Fonte: BBC