Um problema muito maior

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Primeiramente, vamos colocar em números: existe no Brasil 870 mil dependentes de cocaína, 500 a 600 mil usuários de crack, 3 milhões de usuários de maconha contra 20 milhões a 30 milhões de viciados em álcool.

Em segundo lugar, vamos falar de danos. Diante dos estragos causados por drogas como crack e cocaína, fica difícil imaginar que um copo de cerveja ou uma dose de uísque possam ser mais perigosos.

A médica e psiquiatra Ana Beatriz Barbosa da Silva, autora do livro Mentes Perigosas – O Psicopata Mora ao Lado (Editora Fontanar), porém, alerta que as consequências do uso continuado de álcool são devastadoras: desenvolvimento de doenças autoimunes, cirrose, diabetes e depressão, para citar apenas alguns exemplos. E com um agravante: bebidas alcoólicas são drogas legais e estão à venda em cada esquina.

A dra. Ana não está sozinha: muitos especialistas defendem a tese de que, por uma combinação de fatores perversos, o álcool é a droga mais pesada de todas. Ou pelo menos a mais preocupante. “De todas as drogas, o álcool é a que tem o maior número de usuários e a que começa a ser consumida mais cedo, entre os 12 e os 13 anos de idade”, diz a psiquiatra, informando que em “50% dos casos, a primeira dose é consumida em casa, com a conivência dos pais”. Como já vimos aqui, é nesta época de festas que está a maior incidência de início de uso de bebida alcoólica não apenas por adolescentes, mas também de crianças.

Segundo a médica, o poder destrutivo do álcool vem da capacidade que essa substância tem de provocar lesões em tecidos adiposos (gordura). “E o cérebro humano é todo revestido de tecido adiposo”. Ao atacar esse revestimento, diz Ana Beatriz, o álcool desencadeia um processo inflamatório no cérebro, alterando sua bioquímica e as transmissões elétricas entre as sinapses (as ligações que unem os neurônios). “No primeiro momento, ele relaxa. No segundo, provoca euforia. No terceiro momento, vem a depressão. E, se a pessoa não parar de beber, o álcool leva ao coma”.

De acordo com uma pesquisa feita pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), 80% dos adolescentes brasileiros já beberam alguma vez na vida e 33% dos alunos do Ensino Médio bebem em excesso pelo menos uma vez por mês. “O consumo de álcool na adolescência pode causar danos irreversíveis à cognição e à aprendizagem”, afirma Ana Beatriz. E a situação fica ainda mais preocupante, segundo a médica, quando se leva em consideração que anúncios de bebidas alcoólicas ocupam algo entre 8% e 10% de toda a publicidade veiculada na TV – especialmente nos intervalos de transmissões esportivas e programas que têm os jovens como público alvo.

Apesar de considerar algo muito relativo se determinar qual a droga mais pesada, o médico Emiliano Kanter, clínico geral em Porto Alegre (RS), leva em conta o impacto social do alcoolismo o que, então, coloca o álcool “no rol das drogas mais nocivas”.

 

Fonte: Superinteressante