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Carnes processadas – bacon, salame, salsicha, linguiça, presunto, entre outras – entraram para a lista de substâncias que aumentam o risco de desenvolver câncer. A inclusão foi divulgada na segunda-feira pela Agência Internacional para a Pesquisa do Câncer (IARC, na sigla em inglês), ligada à Organização Mundial da Saúde (OMS). Com a mudança, os alimentos embutidos entram para a mesma categoria que o tabaco, amianto e fumaça de diesel. Mas, afinal, o que isso quer dizer?
Em primeiro lugar, os especialistas alertam que consumir um sanduíche com presunto casualmente não é tão grave para a saúde quanto fumar 20 cigarros por dia. “A lista quer dizer que determinada substância ‘causa câncer’, mas não é específica em relação à intensidade desse risco”, explica Samuel Aguiar Junior, oncologista e diretor de Tumores Colorretais do A.C.Camargo Cancer Center. Sabe-se que o cigarro, por exemplo, aumenta em mais de 400% o risco de desenvolver câncer de pulmão. Já a ingestão de um cachorro-quente (50 gramas equivale a uma salsicha) por dia corresponde a um aumento de 18% no risco tumores no intestino. Ou seja, a mensagem é que o consumo excessivo desses alimentos é prejudicial e deve ser evitado.
O grande problema desse tipo de alimento é o processo de conservação: salga, defumação ou industrialização. Acredita-se que as intervenções estejam ligadas ao surgimento de substâncias químicas que causam dano ao DNA da mucosa do intestino, podendo levar ao câncer.
O câncer colorretal é um tipo de tumor que afeta o cólon (um segmento do intestino grosso) e o reto. Entre os fatores ambientais que aumentam o risco de desenvolvimento estão o alto consumo de carne vermelha, ingestão excessiva de bebidas alcoólicas, tabagismo e o sedentarismo. De acordo com o Cancer Research UK, 21% dos casos de câncer de intestino estão ligados ao consumo de carne processada e vermelha. Entre os tumores de pulmão, o tabaco é responsável por 86% dos casos.
Aguiar explica que não existem estudos que atestem a existência de uma quantidade segura para o consumo de embutidos. “Não se deve consumir acima de 100 gramas por dia de carne – processada ou in natura. Diante disso, a recomendação é que as pessoas consumam carne vermelha no máximo duas vezes por semana. No caso das carnes processadas, o ideal é sejam ingeridas raramente, entre uma e duas vezes por mês”, disse o oncologista.
A inclusão dos alimentos processados só foi possível após a avaliação de mais de 800 estudos científicos sobre o tema por uma equipe composta por 22 cientistas de dez países. Em geral, as substâncias cancerígenas são divididas em quatro grupos: carcinogênico (grupo 1), provavelmente carcinogênico (grupo 2A), possivelmente carcinogênico (grupo 2B), carcinogenicidade não classificável (grupo 3) e provavelmente não carcinogênico (grupo 4).
Por exemplo, no grupo 1, no qual os embutidos foram classificados, também estão os raios solares e o tabaco. Isso significa que os cientistas sabem que a exposição de uma pessoa ao sol pode aumentar o risco de desenvolvimento de câncer de pele, que o tabagismo aumenta o risco de câncer de pulmão e que o consumo excessivo de carnes processadas aumenta o risco de câncer colorretal.
Já as carnes vermelhas (vaca, porco, cordeiro, carneiro, cavalo ou cabra) foram incluídas pelo IARC no grupo 2A. As substâncias dessa categoria são aquelas que podem causar câncer em animais, mas que ainda não existem evidências suficientes confirmando sua associação com o aumento do risco da doença em humanos. Fazem parte desse grupo os anabolizantes e as frituras.
O grupo 2B contempla as substâncias para as quais as evidências de associação com o aumento do risco de câncer em animais e humanos são limitadas ou insuficientes. Nesta categoria estão o café e a gasolina. As substâncias “não classificáveis” fazem parte do grupo 3 e são as que os pesquisadores não sabem se podem ou não causar câncer. Alguns dos itens desta categoria são os chás e os campos magnéticos estáticos. Por fim, está o grupo 4 com apenas um item: a caprolactama, uma substância tóxica e irritante, mas que não tem nenhuma ligação com o desenvolvimento de tumores.
Fonte: Revista Veja, por Giulia Vidale