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Quando pensamos em animais, certamente não imaginamos que eles sejam consumidores frequentes de substâncias psicoativas. Entretanto, o Discovery News publicou um artigo no qual delata um grupo de animais que usa e abusa dos mais variados tipos de drogas. Conheça alguns deles:
O calor e a umidade dos trópicos, onde os humanos evoluíram, causam uma fermentação na casca e na polpa. Os açúcares são convertidos em várias formas de álcool, sendo que a mais comum é o etanol – presente em todas as bebidas alcoólicas. O vapor se dispersa no vento e é um ótimo sinal de que a fruta está madura.
E é nessas horas que o macaco vervet (Chlorocebus pygerythrus, imagem à direita) faz a festa: ele curte entrar nas plantações de cana de açúcar e procurar pelos pés mais velhos e em fermentação para poder ‘encher a cara’. A bebedeira é intensa para a espécie: estudos já mostraram que 4 a cada 5 macacos desses preferem um copo de cachaça a um de água com açúcar. O mesmo estudo mostrou que são os mais novos que mais apreciam o álcool. O interessante é que o “alcoolismo” dos vervets parece ter sido incentivado pelos seres humanos. É que essa espécie foi levada da Europa para a ilha caribenha de St. Kitts, há 300 anos onde, acredita-se, os macacos acabaram desenvolvendo gosto pelo açúcar e, com o tempo, resistência ao álcool.
O musaranho (Ptilocercus lowii, na foto à esquerda) é um mamífero parecido com a chinchila, que pode ser encontrado na Tailândia e em algumas partes da Ásia. Ele parece fofinho, mas toda noite consome, na forma do néctar fermentado de uma palmeira, o equivalente humano a 10 ou até 12 taças de vinho – tudo isso sem ficar bêbado. É que o musaranho transforma muito do álcool ingerido em um composto que ajuda seus pelos a crescerem.
Um composto bruto, concentrado e estimulante, produzido pela folha da coca (Erythroxylum coca, à direita) deveria funcionar como uma espécie de inseticida natural, capaz de matar a maioria dos insetos que se alimente das folhas. Entretanto, existe uma espécie de mariposa nativa da Colômbia chamada Eloria noyesi cuja lagarta se alimenta tranquilamente dessa planta sem sofrer com qualquer tipo de efeito. Aliás, a coca é seu alimento favorito, e as autoridades colombianas chegaram a cogitar a ideia de infestar as plantações ilegais com essa lagarta e acabar com o cultivo.
A erva de gato (Nepeta cataria) é uma plantinha que, de fato, afeta os bichanos de tal maneira que alguns cientistas já afirmaram: a erva tem para os gatos o efeito que o LSD tem para seres humanos – ou seja, alucinógeno, relaxante e prazeroso. Basicamente, o que a erva faz é simular os feromônios – hormônios ligados ao sexo e à conquista – dos felinos. E aí, ela se torna irresistível, e a resposta dos gatos varia entre babar e se esfregar no chão ou ficar hiperativo. Mas, curiosamente, o efeito é hereditário: algo em torno de 30% dos bichanos nem liga para a planta.
Enquanto os felinos domésticos ficam malucos com a erva de gato, os felinos selvagens, como as onças-pintadas, são fãs do cipó-mariri, um dos ingredientes utilizados para preparar a Ayahuasca, uma bebida consumida para fins religiosos e ritualísticos que provoca fortes alucinações. Aparentemente, o consumo pelas onças provoca um aumento da percepção sensorial e melhora a habilidade de caça desses animais. Os cientistas ainda não chegaram a um acordo se a ingestão do alucinógeno serve para fazê-los vomitar quando estão se sentindo mal (como os gatos fazem com a grama), se é para que fiquem com os sentidos aguçados e caçarem melhor, ou se é só pela “brisa” mesmo.
O simpático animal da imagem à esquerda é o wallaby, um parente dos cangurus de menor tamanho e natural da Tasmânia. Nas horas vagas ele costuma devorar as papoulas cultivadas pela indústria farmacêutica para a obtenção de ópio. Essa substância contém morfina, e depois de ser refinada, se transforma em heroína. Segundo relatos, o pessoal que cuida da segurança dos cultivos tem o maior trabalho com os wallabies, que, depois de consumir as plantas, começam a pular e a andar em círculos até cair em algum lugar para dormir. Cansados da farra, os agricultores acabaram levando este problema ao parlamento australiano.
Além dos wallabies, outros animais que já foram flagrados invadindo as plantações de papoulas foram as ovelhas. E elas também apresentam o mesmo comportamento dos wallabies depois de consumi-las.
No oeste dos Estados Unidos existe um tipo de erva daninha da família Fabaceae conhecida como locoweed ou crazyweed ou, simplesmente, “loco”. Os cavalos são grandes consumidores dessa planta, que possui algumas toxinas capazes de fazer com que os animais se tornem letárgicos, fiquem com a visão embaralhada, apresentem comportamento instável e com sérios problemas de coordenação. Além disso, uma intoxicação mais grave também pode causar danos neurológicos permanentes, problemas reprodutivos e a morte dos animais. O hábito de comer a “erva de louco” quase sempre começa sem querer, quando é inverno e a neve cobre todo o pasto, exceto esta planta. Mais: segundo um estudo recente, o uso da planta pode causar depressão e perda de peso excessiva.
Também na América do Norte, principalmente nas montanhas rochosas, vivem carneiros selvagens (Ovis canadensis, à esquerda) que utilizam um líquen muito raro e especial, um alucinógeno de efeito tão poderoso que faz os carneiros subirem em locais perigosos só para pegar algum.
Além das plantas e frutas fermentadas alguns bichos são fontes de drogas para outros animais. É o caso dos macacos-prego (dir.), que costumam se lambuzar na gosma protetora (e tóxica) de uma espécie de centopeia. A primeira razão pela qual os macacos parecem fazer isso é para se proteger de parasitas e insetos. Porém, quando eles usam a substância, parecem entrar em uma espécie de transe – e o engraçado é que, quando eles pegam uma centopeia dessas, ficam passando de um para o outro como quem passa um cigarro de maconha.
Já as abelhas gostam de qualquer coisa que tenha álcool, desde de néctar fermentado até etanol puro. Quando têm a oportunidade, elas conseguem beber o equivalente a 10 copos de vinho e acabam ficando muito irritadas. O mais engraçado é que, quando uma abelha volta bêbada para a colmeia, ela é expulsa de casa até ficar sóbria. Se o comportamento se repetir, as companheiras da beberrona arrancam todos os membros dela como forma de castigo. Já pensou se a moda pega?
Fonte: Discovery News via Superinteressante