Tempo de leitura: 4 minutos
O mundo moderno trouxe não apenas inovações tecnológicas, mas, até mesmo, mudanças no comportamento adicto. Antes restrito às drogas lícitas e ilícitas, o vício se fez presente em hábitos como redes sociais, internet, selfies e videogames.
Agora, vem da cidade de Bangalore, na Índia, o primeiro caso de vício em Netflix, provedora global de filmes e séries de televisão via streaming.
O diagnóstico foi feito pelo Serviço de Uso Saudável da Tecnologia daquele país. Segundo a imprensa local, o homem de 26 anos assistia filmes e séries à exaustão (a chamada “maratona”) para não lidar com seus outros problemas, como dificuldade de socialização e desemprego.
Manoj Kumar Sharma, psicólogo responsável pelo caso, diz que sempre que a família do paciente o coagia a ir procurar um emprego, ele se fechava e assistia Netflix.
Durante os próximos meses o paciente, que está em sigilo médico, receberá um tratamento clínico classificado por vício. A terapia está sendo feita, inicialmente, com exercícios de relaxamento.
Relatos da família apontam que o paciente acordava e já ligava a TV, sem sequer se levantar da cama ou se exercitar. O dr. Sharma explica que, diferente da TV tradicional, o espectador não precisa esperar horários na Netflix, o que transforma a plataforma em um lugar mais fácil para se perder no tempo. Por isso, este primeiro caso está sendo acompanhado também pelo Serviço de Uso Saudável da Tecnologia (SHUT) e o Instituto Nacional de Saúde Mental e Neurociência (Nimhans), ambos na Índia.
Recentemente, o renomado jornal britânico The Guardian chamou a Netflix de “muleta emocional”: O entretenimento sempre foi sobre escapismo. Não há nada de novo em se desligar dos problemas, ligando a TV. O que é novo, no entanto, é o grau em que a Netflix, como todas as grandes plataformas tecnológicas, é projetada para ser viciante ao transformar um comportamento insalubre em uma parte aceita da cultura moderna. E nem sequer tenta esconder o fato de que sua ambição é prender a todos. Reed Hastings, CEO da Netflix, disse que seu maior concorrente é o sono . “Pense nisso: quando você assiste a um programa da Netflix e fica viciado, fica acordado até tarde da noite… estamos competindo com o sono”, disse ele no ano passado”, escreveu o jornal para quem o serviço de streaming se tornou o novo “ópio das massas”.
A liberação de dopamina e a motivação são uma característica marcante do vício. Muitos brincam de ser “viciados” em seus programas favoritos, mas talvez esse sentimento signifique algo muito mais sério. Desde 1996, o Transtorno de Dependência da Internet tem sido estudado e considerado para inclusão no contexto clínico como um transtorno documentável. E, embora isso represente um extremo que não afetará a maioria dos usuários da Netflix, é uma realidade concreta quando se fala em assistir TV por horas a fio.
Na verdade, estamos entrando no centro de recompensas de nossos cérebros quando alcançamos um nível totalmente novo de domínio da Netflix. Terminar um número de episódios, ou até mesmo uma série inteira, nos permite sentir como se tivéssemos completado uma tarefa, o que causa um surto de liberação de dopamina em nossos cérebros. Essa dopamina nos motiva a continuar assistindo mais e mais, criando um ciclo aparentemente sem fim.
Para Catherine L. Franssen, professora de Neurociências da Universidade de Longwood, existem basicamente duas estratégias para controlar o tempo da Netflix para crianças: definir o número de shows que ela pode assistir ou definir o tempo que ela pode assistir.
Já para os adultos lembretes externos, como definir um cronômetro, pode causar essa verificação de realidade. “Um truque que meu marido e eu usamos muito é pausar durante uma transição ou desacelerar parte de um show para completar uma tarefa, e depois voltar para terminar o episódio”, escreveu ela no HuffPost. “Isso realmente ajuda a quebrar o efeito do Netflix, e nos engana para realizar as tarefas enquanto ainda se sente feliz com a TV assistindo”, conclui Franssen.
Seja qual for a sua estratégia, encontrar um bom equilíbrio é essencial para uma vida saudável em geral.
Fonte: The Hindu e HuffPost