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Já mostramos aqui os alertas de profissionais de saúde sobre o aumento do risco de morte associado ao uso de drogas psiquiátricas, refletindo muito de perto o aumento de mortes relacionadas ao uso de opióides nos Estados Unidos.
A questão já vinha sendo tratada como uma epidemia, inclusive com a formação de um grupo de trabalho especial coordenado pela Casa Branca. Afinal, segundo dados do Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos, desde o final da década de 1990 mais de 300 mil americanos morreram em decorrência de overdoses de analgésicos. Comumente indicados para dores fortes, estes medicamentos são baseados em substâncias sintéticas que simulam os efeitos dos opiáceos, drogas obtidas a partir do ópio, uma das substâncias mais viciantes que existem e origem, também, da morfina e da heroína.
Ao contrário dos analgésicos comuns como dipirona ou paracetamol, os opiáceos são medicamentos muito potentes e, por isso, na década de 90, o consenso era de que apenas pacientes com dores muito fortes deveriam usar esse tipo de analgésico devido ao alto risco de dependência. E assim, em um golpe de marketing da indústria farmacêutica, teve início a epidemia de opiáceos nos Estados Unidos: somente entre 2010 e 2014 o número de mortes por overdose dessas substâncias aumentou 248%.
Mas, enquanto nos EUA estas substâncias viraram questão de saúde pública devido a seu potencial viciante, aqui no Brasil o número de prescrições médicas de opiáceos vendidos nas farmácias em 2009 foi de 1.601.043 e em 2015, passou a 9.045.945, em números absolutos, representando um salto de 465%. Os dados são da Agência Nacional de Saúde (Anvisa), expostos no artigo Rising trends of Prescription Opioid Sales in Contemporary Brazil, 2009-2015, publicado no American Journal of Public Health (AJPH) em abril deste ano.
Nele, é abordado o crescente volume de vendas de opiáceos a partir das prescrições médicas, no período de 2009 a 2015 no Brasil. O artigo mostra também que os produtos à base de codeína, para dores moderadas, foram de 95%, pulando de 1.584.372 prescrições para 8.872.501 receitas médicas, para o mesmo período.
Francisco Inácio Bastos, do Laboratório de Informação em Saúde (LIS) do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict/Fiocruz) é um dos autores do referido artigo. Em entrevista ao jornal O Globo, o pesquisador, que também é um dos coordenadores da Pesquisa Nacional sobre o Uso de Crack, afirma que é necessário acompanhar o uso dos opiáceos e opióides que são vendidos pela internet e sem prescrição médica. “Não acho que vá ser um problema a curto prazo, mas temos que ficar alertas em relação à prescrição, ela tem que ser criteriosa. Além disso, é preciso ficar atento em relação à comercialização ilegal na internet”, destacou Bastos. O pesquisador também afirma que há falhas no sistema de saúde: “Há uma dificuldade em fazer o ‘desmame’ do medicamento em pessoas que passaram por uma hospitalização e receberam alta. A retirada mal conduzida do medicamento acaba gerando dependência”, disse.
Fonte: Agência Fiocruz