“Todos os países que agem com rigor contra as drogas são os que têm os melhores resultados”

“Todos os países que agem com rigor contra as drogas são os que têm os melhores resultados”

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O médico psiquiatra  Luís Fernando Tófoli e o neurocientista Sidarta Ribeiro escreveram  um texto intitulado Política de drogas ou uma droga de política?, onde acusam que a política sobre drogas estaria sendo ‘contaminada’ pela perspectiva do ministro do Desenvolvimento Social e Agrário, Osmar Terra (PMDB-RS). Eles escreveram que:

O tema da política de drogas, no Brasil, suscita uma miríade de visões que se complementam e opõem, desde as mais libertárias até as mais repressivas, passando por um amplo espectro de posições entre os extremos. É justamente por essa complexidade, incluindo visões minoritárias, que os espaços de discussão sobre o tema devem ser democráticos para a busca de consensos possíveis, sem sufocar o debate.

Infelizmente, não é isso o que se tem observado na atual condução do Conselho Nacional de Políticas de Drogas, o Conad. O conselho é o mais importante colegiado sobre o tema no Brasil. Instalado no Ministério da Justiça, assim como a Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (Senad), é composto por representantes de órgãos públicos e de entidades da sociedade civil, como a OAB  e a SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência).

O Conad, que em governos anteriores mantinha encontros regulares, reuniu-se apenas duas vezes na gestão Temer. A última reunião em 19 de dezembro, no apagar das luzes de 2017, ocorreu mais de um ano depois da anterior, quando já havia expirado o mandato dos representantes de várias entidades. Alguns conselheiros foram comunicados com apenas uma semana de antecedência.

O ministro Osmar Terra, entretanto, criticou a proposta liberacionista de Tófoli e Sidarta, questionando o que chamou de “tentativas de abrandar as leis antidrogas”.

“São frequentes as críticas de alguns grupos do lobby pró-drogas contrárias às mudanças na política pública atual sobre o assunto. Na verdade, só falam em apressar a liberação e não restringir seu uso! Acontece que esses mesmos grupos e suas ONGS promovem, de alguma forma, a política caótica sobre drogas no Brasil há quase 20 anos”, escreveu o ministro, autor do PLC 37 (nova Lei Antidrogas).

De fato, ano passado, o ministro do Supremo Tribunal Federal Luís Roberto Barroso publicou um artigo no jornal britânico The Guardian onde falava sobre a atual política de drogas no Brasil e aponta que é preciso ampliar o debate sobre a legalização, já que a “política atual apenas destrói vidas”.

Também em 2017, o coronel PM Ubiratan Angelo, hoje coordenador de Segurança Humana do Viva Rio, no Rio de Janeiro, pensa como transformar a polícia na que queremos ter e também em como recuperar a cidade, e a Região Metropolitana. Segundo ele, isso só será possível com uma nova política antidrogas, que legalize e regule seu comércio.

Para Osmar Terra, que é médico, esse “discurso ideológico trabalha para abrandar o rigor das leis, para paralisar e desmoralizar a ação policial e também resulta na ineficiência do atendimento aos dependentes químicos, já que hoje caríssimas estruturas estatais como os Centros de Atenção Psicossociais Álcool e Drogas (CAPS AD) se transformaram, na prática, em meros locais de orientação sobre redução de danos. As mães dos dependentes químicos podem testemunhar sobre o pífio resultado disso para seus filhos”.

O artigo escrito em resposta ao texto assinado por Tófoli e Sidarta diz ainda que:

Ao longo dos anos, a SENAD (Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas) e o CONAD (Conselho Nacional de Políticas sobre Drogas) viraram meros instrumentos para a contratação e disseminação de teses pró liberação, propagadas por ONGS e fundações.

A proposta liberacionista que dominou a SENAD e o CONAD todos esses anos, tinha como objetivo disseminar informações de cunho filosófico-ideológico, sem base científica, ou dar emprego a seus militantes.

A ideia sempre se concentrou no incentivo à redução de danos, em detrimento ao tratamento eficiente e com resultados práticos. A abstinência das drogas, Comunidades Terapêuticas (CTs), e o atendimento hospitalar são execrados pelos apóstolos da liberação. Que, aliás, são contrários a métodos científicos de atendimento médico e psiquiátrico.

São contra inclusive o trabalho dos psiquiatras e não consideram a dependência das drogas como um transtorno mental grave, como uma doença do cérebro. A leniência no assunto só contribui para o brutal recorde mundial de homicídios e de violência que assola o Brasil, além da desagregação social que só aumenta.

Estreitamente vinculada à disseminação das drogas, a violência não é só a provocada pelo tráfico, mas está muito mais vinculada à multiplicação geométrica de pessoas com transtorno mental grave, sem controle de seus impulsos. O aumento da violência doméstica é uma consequência disso.

Ainda assim, representantes dessa corrente, como Luís Fernando Tófoli e Sidarta Ribeiro se recusam a admitir o fracasso de sua proposta pró-drogas e tentam impedir qualquer mudança política no CONAD, acusando os que não compactuam com suas ideias de retrógados, extremistas, conservadores ou mesmo antidemocráticos.

Estou sempre disposto a contribuir para o debate e me dedico a esse assunto desde que, como secretário de Saúde do Rio Grande do Sul, assisti a explosão da epidemia do crack, em meados da década passada. O fato é que todos os países do mundo – sejam governados pela esquerda ou pela direita – que agem com rigor contra as drogas são os que têm os melhores resultados, em saúde pública e redução da violência. E todos, sem exceção, proíbem a maioria das drogas que os nossos lobistas querem liberar aqui.

O ministro Osmar Terra ainda alerta que “o resultado notável” do trabalho dos grupos e ONGS do lobby pró-drogas “é a avassaladora epidemia de drogas com uma gigantesca e crescente oferta delas nas ruas. E um séquito trágico de doenças e morte de jovens, em todo país”.

 

Fonte: Poder 360