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Chamada comumente de “cânhamo”, “maconha”, “marijuana”, “baseado”, “beque”, “banza”, etc., o uso das plantas Cannabis sativa e Cannabis indica (outra variedade) estão presentes na cultura humana há pelo menos 4.800 anos. Achados arqueológicos confirmam que desde essa época ela já era usada como medicamento na China.
No Egito é conhecida há 4.000 anos e na Índia, chamada de “ganja”, ela é considerada uma planta sagrada e ainda hoje é utilizada na meditação por sadhus – celibatários praticantes do Yoga – e em rituais como oferenda ao deus Shiva.
No Brasil, alguns especialistas especulam que a Cannabis tenha sido introduzida por africanos escravizados e plantada originalmente nas regiões Norte e Nordeste. Embora fumar maconha já não fosse permitido desde o Império, no século XIX, foi somente em 1936 que seu cultivo, comércio e uso foram proibidos em território nacional.
Seu mais importante princípio ativo, o THC (ou tetraidrocanabinol) age no sistema nervoso causando sintomas como aumento da sensibilidade, hilariedade, confusão de idéias, alteração da percepção espaço-temporal, prejuízo nos reflexos, na coordenação motora e na fala.
Isso torna o usuário inapto a executar adequadamente atividades que exigem concentração, precisão e raciocínio lógico. No organismo, causa aceleração nos batimentos cardíacos, os olhos ficam vermelhos, a boca fica seca e o apetite aumenta – a chamada “larica” na gíria.
Embora suas formas de consumo sejam diversas (ela pode ser fumada, comida com massa de bolo ou pão, e até bebida, na forma de uma bebida conhecida na Índia como banghe), seus efeitos variam muito dependendo da pessoa, da qualidade e quantidade da erva e da experiência do usuário.
Para saber se o indivíduo usou basta observar alguns destes sintomas, junto com seu comportamento, círculo de amizades ou odor característico.
Algumas pessoas podem ter alucinações audiovisuais, crises de ansiedade, pânico, depressão, reações paranóicas e outras psicoses. Esses sintomas não são freqüentes, mas acontecem, sendo mais comum em pessoas com predisposição genética e aos usuários de maconha ou tabaco juntamente com haxixe – que contém mais THC e é derivado do pólen extraído das flores da Cannabis e compactado.
Por esse motivo, profissionais da área da saúde não deveriam ser a favor da legalização da maconha. Uma minoria vai experimentar e não vai acontecer nada, parando naturalmente de usar na idade adulta. Para a grande maioria de usuários, contudo, os problemas vão acontecer a médio e longo prazo.
Para alguns, fumar apenas algumas vezes pode desencadear problemas sérios que vão afetá-lo para sempre. Isso vai desde uma esquizofrenia até a síndrome amotivacional, com comprometimentos sociais graves: abandono de estudo, trabalho e relacionamentos, para ficar isolado, ou dentro de um quarto, ou com alguns amigos fumando maconha o dia inteiro.
Com o álcool acontece um processo semelhante ao da maconha. Por ser considerada uma droga de ‘baixo risco’, seus usuários também manifestam o desejo de manter o “barato” sob controle para desfrutar outras atividades a sós ou em grupo.
Não existe, porém, consumo de psicotrópicos livre de risco. Por terem certas afinidades, é fácil notar porque ambas podem causar sérios problemas. E como o prazer momentâneo que elas causam confunde o cérebro e a memória do usuário, é muito difícil interromper seu uso, mesmo em casos extremos.
Por isso, só um tratamento adequado, com profissionais especializados, e o encontro de uma razão ou sentido maior para viver pode livrar um dependente químico da compulsão.
E é quando isso verdadeiramente acontece que a pessoa resolve deixar de lado um ‘paraíso artificial’ e buscar a verdadeira espiritualidade.
FREDERICO ECKSCHMIDT é psicólogo, especialista em dependência química e mestrando pela Faculdade de Medicina da USP. Possui pós-graduação em Social Health, pela Harvard University e é também é sócio-diretor do Núcleo Synthesis. Email: frederico@nucleosim.com.br