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Entre os dependentes químicos adultos na faixa de 24 a 39 anos de idade em Minas Gerais, 17,8% iniciaram o uso da substância entre 5 e 11 anos de idade e mais de 60,8% entre 11 e 17 anos. Desses, 80% engrossam as estatísticas de evasão escolar.
As informações são da subsecretária de Estado de Políticas sobre Drogas, Patrícia Magalhães, baseada em pesquisa do Centro de Referência de Álcool e Drogas de Minas Gerais. Ela foi uma das convidadas da audiência pública da Comissão de Prevenção e Combate ao uso de Crack e Outras Drogas da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) realizada em setembro deste ano.
A mesma pesquisa, segundo o vice-presidente do Conselho Municipal de Políticas sobre Drogas de Belo Horizonte, João Francisco de Souza Duarte, mostra que 16,4% das pessoas com transtornos mentais fazem uso de álcool, maconha, cocaína e crack, totalizando 409 mil usuários de drogas só na Capital mineira.
Entre eles, 70 mil fazem uso abusivo ou dependente de maconha e 35 mil fazem uso abusivo ou dependente de cocaína ou crack. “Estamos diante de uma indústria que tem um poder muito grande. Se prender uma tonelada de maconha, não altera o perfil dos usuários de drogas em Belo Horizonte”, afirmou.
Convocada a requerimento do presidente da comissão, deputado Antônio Jorge (PPS), a reunião teve por objetivo debater a realidade das escolas públicas frente aos desafios do consumo e do tráfico de drogas.
Segundo o parlamentar, a legislação brasileira é muito permissiva no tocante à publicidade de bebidas alcoólicas, que, na sua opinião, é a porta que conduz ao uso e abuso de outras drogas. Ele defendeu a necessidade de políticas intersetoriais que foquem a escola como espaço de prevenção, argumentando que é na escola que os adolescentes estão mais permeáveis a novas culturas e comportamentos.
“O tráfico de drogas é hoje um verdadeiro complexo industrial, que utiliza tecnologias de mercado para ver onde crescer e como se especializar”, denunciou. O deputado defendeu projetos que induzam o jovem à prática de hábitos saudáveis e lamentou o esvaziamento do programa Aliança Pela Vida, de prevenção ao uso de drogas.
Ele ressaltou a importância de que as políticas públicas se estruturem como políticas de Estado, e não como políticas de governo, de forma que os programas permaneçam e se desenvolvam, independentemente da alternância de partidos no poder.
Dizendo-se contra a liberação das drogas porque acha que o Brasil ainda não está preparado para isso, o deputado afirmou, porém, ser favorável à descriminalização dos usuários. Ele citou as políticas de descriminalização adotadas em Portugal, onde a droga é proibida, mas o usuário não é estigmatizado.
Mais do que a repressão, um trabalho sério de prevenção, sobretudo entre as crianças e adolescentes, pode ter muito mais eficácia no combate ao uso de drogas, segundo admitiram os convidados presentes à audiência.
Foi o que afirmou Kessiane Goulart Silva, coordenadora de Educação em Direitos Humanos da Secretaria de Estado de Educação de Minas Gerais. “Dentro das escolas, a melhor política é a da prevenção. Precisamos dialogar de forma aberta sobre isso com a juventude. O que os jovens têm a dizer? Quais as suas experiências? É preciso criar um ambiente de convivência e diálogo com os estudantes”, afirmou.
Segundo ela, o uso da droga permeia toda a sociedade, mas as classes menos favorecidas e determinados segmentos, como jovens, negros e pobres, são mais vulnerabilizados.
A promotora Daniela Yokoiama, do Centro de Apoio Operacional das Promotorias de Justiça e Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente, considerou que prevenir é traçar ações que diminuam fatores de risco e aumentem os fatores de proteção.
Ela defendeu políticas alternativas esportivas e socioculturais como diretrizes para orientar ações preventivas. “A escola é um ambiente em que a diversidade se impõe e isso é importante para a formação do cidadão. Se a gente não aprende a conviver com a diferença na escola, a gente não vai também desenvolver a tolerância na sociedade”, frisou.
Para Marcelo Derussi, presidente do Conselho Municipal de Políticas sobre Drogas de Belo Horizonte, os usuários não devem ser tratados como criminosos, mas sim doentes. “O melhor tratamento é uma rede ampla, que envolva os nossos equipamentos de saúde, as comunidades terapêuticas e a população como um todo. É preciso garantir uma opção de escolha do cidadão”, explicou.
Fonte: Metro Jornal