Crescimento constante – e alarmante

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Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), a cada 40 segundos uma pessoa comete suicídio. São 800 mil pessoas, a cada ano, que tiram a própria vida no mundo. E para cada caso fatal há pelo menos outras 20 tentativas fracassadas.

A OMS reconhece o suicídio como uma ação de saúde pública. O primeiro relatório da organização sobre o assunto, Prevenção do suicídio: um imperativo global, publicado em 2014, incentiva os países a desenvolver ou reforçar estratégias de prevenção com abordagem multissetorial. Mas, segundo a organização, poucos países incluíram a prevenção ao suicídio entre suas prioridades de saúde – somente 28 relatam possuir uma estratégia nacional para isso.

O suicídio é uma das condições prioritárias do mhGAP (Mental Health Gap Action Programme), programa de saúde mental da OMS, que fornece aos países orientação técnica baseada em evidências para ampliar a prestação de serviços e cuidados para transtornos mentais e de uso de substâncias. No Plano de Ação de Saúde Mental 2013-2020, os Estados-Membros da OMS se comprometeram a trabalhar o objetivo global de reduzir as taxas de suicídios dos países em 10% até 2020.

São duas as intervenções baseadas em evidências para abordar o suicídio, segundo o documento: restrição do acesso a métodos comuns de suicídio e prevenção e tratamento da depressão e dependência de álcool e drogas. Seja isoladamente ou em uma combinação de fatores, cerca de 2 terços de todas as pessoas que cometem suicídio sofrem de depressão ou alcoolismo.

Em tempos de sofrimento, segundo a cartilha da OMS, o álcool e o abuso de substâncias aumentam significativamente o risco de suicídio entre os adolescentes de 16 anos e mais velhos.

Entre os jovens na faixa etária dos 14 aos 18 anos, além da depressão e do alcoolismo entram na lista desesperança, impulsividade e o consumo de outras substâncias psicoativas colocam o  suicídio como a terceira causa de morte entre adolescentes nesta faixa etária.

Este foi o resultado de um estudo epidemiológico que identificou alguns fatores que mostram associação estatisticamente significante com o suicídio entre 1216 estudantes de segundo-grau de escolas públicas da cidade de Búfalo, estado de Nova York (EUA).

Em geral, os modelos utilizados para a compreensão do suicídio assumem que as relações entre este comportamento e seus fatores causais não variam de acordo com a idade. Como alternativa a esta compreensão, o modelo conceptual da psicopatologia do desenvolvimento permite a investigação de como (e se) a relação entre o suicídio e o consumo de álcool varia através das faixas etárias durante a vida das pessoas.

Os autores concluíram que a associação entre o consumo excessivo de álcool e o suicídio não é exclusiva e nem se constitui numa relação de causalidade linear e direta. Outros fatores, como dificuldades emocionais, beber para lidar com emoções desagradáveis e stress, fraco suporte familiar e porcentagem alta de amigos que usam álcool, também exercem influência importante nesta associação. A presença destes fatores influencia o desenvolvimento de depressão, experimentar situações estressantes e beber de maneira prejudicial, que por sua vez, são preceptores do suicídio.

Os cientistas ponderam, ainda, que o consumo de álcool deve ser considerado um fator de risco geral para o suicídio, contrariamente ao beber até embriagar-se, geralmente apontado como atitude específica tanto para as tentativas quanto para as mortes por suicídio.

No Brasil, de acordo com o Mapa da Violência 2017, estudo publicado anualmente a partir de dados oficiais do Sistema de Informações de Mortalidade (SIM) do Ministério da Saúde, a taxa de suicídios na população de 15 a 29 anos subiu de 5,1 por 100 mil habitantes em 2002 para 5,6 em 2014 – um aumento de quase 10%. Em 1980, a taxa de suicídios na faixa etária de 15 a 29 anos era de 4,4 por 100 mil habitantes; chegou a 4,1 em 1990 e a 4,5 em 2000. Assim, entre 1980 a 2014, houve um alarmante crescimento de 27,2%.

Já segundo o estudo Uso Adolescente de Substância e Comportamento Suicida: Uma Revisão com Implicações para Pesquisa em Tratamento realizado pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), constatou a ingestão de álcool até seis horas antes em 21% dos 80 casos de tentativa de suicídio atendidos. Os resultados comprovam que o uso de substâncias aumenta o risco de comportamento suicida, sendo que os adolescentes suicidas apresentavam elevadas taxas de uso de álcool e drogas ilícitas.

De acordo com o manual de prevenção do suicídio para profissionais das equipes de saúde mental do Ministério da Saúde, o álcool aumenta a impulsividade e, com isso, o risco de suicídio. Já a diretriz da OMS é abordar o tema sem glamour, sem divulgar métodos e sem apontar o suicídio como solução para os problemas – agindo sem preconceito e oferecendo ajuda a quem precisa.

 

Fontes: Cisa (Centro de Informações sobre Saúde e Álcool) e BBC Brasil