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Vivemos num tempo em que as pessoas querem resolver tudo tomando um remédio. E, para piorar, apareceram doenças da mente e medicamentos para isso também, o que reforçou a teoria de que tudo tem uma causa física, e, portanto, tratável somente com remédios.
O consumo desenfreado de drogas legalizadas foi então crescendo e se estendendo para substâncias controladas. O resultado? Hoje, muita gente toma remédios controlados sem nenhuma necessidade – tornaram-se dependentes.
De um lado, há quem se automedique, colocando a saúde em risco. “A ingestão de medicamentos sem indicação médica é um problema gravíssimo que pode trazer consequências muito sérias para o paciente, que vão desde a intoxicação mais amena ao óbito”, alerta Márcia Gonçalves, coordenadora do Sistema Nacional de Gerenciamento de Produtos Controlados (SNGPC).
O SNGPC foi implantado nos anos de 2007 e 2008 para monitorar as vendas de produtos controlados realizadas em farmácias e drogarias brasileiras. Desde então, algumas substâncias relevantes presentes em medicamentos controlados foram estudadas: sibutramina (inibidora de apetite), fluoxetina (antidepressivo), femproporex (anorexígeno), anfepramona (anorexígeno), metilfenidato (estimulante do sistema nervoso central) e mazindol (anorexígeno).
A escolha dos primeiros remédios analisados levou em conta o fato de o Brasil ter sido apontado pela Junta Internacional de Fiscalização de Entorpecentes (JIFE) por dois anos consecutivos como o maior consumidor de medicamentos com finalidade emagrecedora. Além disso, a periculosidade foi observada. O Cloridrato de Sibutramina, por exemplo, foi proibido nos países da comunidade europeia e, também, sua restrição com exigência de alertas nas bulas foi aumentada nos Estados Unidos.
“A maioria destes medicamentos causam dependência física e ou psíquica e têm um enorme número de efeitos colaterais, como: constipação, insônia, alucinações, taquicardia, dificuldade para dirigir veículos e operar máquinas, hipertensão arterial e até episódios esquizofrênicos”, explica Márcia.
O chefe do Departamento de Psiquiatria do Hospital São Luiz, Ivan Morão Dias, lembra que os antidepressivos e ansiolíticos também merecem atenção. “Eles podem causar dependência física, mas não só isso. Muitos pacientes passam a depender desses medicamentos para adquirir estabilidade emocional”.
O psiquiatra aconselha as pessoas a terem cuidado na hora de ingerir esse tipo de substância, mesmo quando receitada por um médico. “Nem tudo se medica. O diálogo é, muitas vezes, mais eficaz que qualquer remédio”, declara.
Ivan conta que há pacientes que entram em seu consultório só para pedir a receita de uma substância. “Eles acreditam que a causa de qualquer ansiedade, tristeza ou angústia é física, por causa dos neurotransmissores, por exemplo. Só que isso não é verdade, pois nosso estado emocional interfere no físico também”, afirma.
E qual seria a razão para o consumo desenfreado de medicamentos controlados e prejudiciais à saúde? “Atualmente as pessoas buscam soluções rápidas para tudo. É como se o remédio fosse uma fórmula mágica capaz de acabar rapidamente com dores emocionais”, responde o psiquiatra.
O especialista ensina que quando há sintomas graves de uma doença emocional, como não comer ou dormir por vários dias, o remédio deve mesmo fazer parte do tratamento. “Mas precisa estar aliado a uma abordagem verbal, a um acompanhamento do caso de cada paciente. Assim, é possível diminuir as doses do remédio após algum tempo”, afirma.
Então, não vale a pena tomar um remédio controlado porque um conhecido indicou ou porque sai mais barato que um tratamento com um profissional. Afinal, é sua vida que está em jogo. Problema emocional deve ser tratado, de início, com muito diálogo e força de vontade. Às vezes o que falta é disposição para romper limites e paciência para que algumas situações sejam enfrentadas e resolvidas.
Fonte: Priscilla Nery via MBPress