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Nos Estados Unidos é muito comum encontrarmos as chamadas lojas de conveniência por quase toda esquina. Estas lojas são assim chamadas porque vendem de tudo. Tudo MESMO.
Tanto que um item se tornou pivô de controvérsia: a urina.
Não, não estamos fazendo piada. As lojas de conveniência dos EUA estão vendendo urina!
Produzidas por dezenas de empresas e geralmente vendidas online, amostras de urina sintética ou real desidratada prometem burlar exames e 100% de eficácia em resultados neutros para usuários de drogas.
A polêmica começa pelo fato de que, nos EUA, os empregadores têm carta verde do governo para pedir exames sobre uso de drogas antes de contratar alguém – e, em muitos casos, também depois da contratação, sem aviso prévio. Os testes são obrigatórios para empregos em agências do governo americano e para todos os motoristas profissionais do país – dos condutores do Uber a pilotos de caminhões. Nos demais setores, a exigência ou não de testes é uma escolha das empresas.
A situação se complica quando se leva em conta que os Estados Unidos enfrentam uma epidemia sem precedentes de opioides, que já mata mais de 100 pessoas por dia de overdose em todos os grupos sociais e idades e rendeu um pronunciamento do presidente Donald Trump classificando a escalada das drogas como “um problema tremendo”, do qual “ninguém está a salvo” (Para quem não leu nossos artigos anteriores a respeito: opioides são drogas quimicamente semelhantes que interagem com os chamados receptores opioides de células nervosas no corpo e no cérebro. Podem ser substâncias proibidas, como heroína, ou analgésicos prescritos, como morfina, codeina, fentanil e oxicodona).
Segundo os fabricantes, a maioria das amostras de urina é vendida para fins de pesquisa ou “fetiche” (uma alusão aos adeptos da “chuva dourada”, que consiste em urinar sobre o parceiro em relações sexuais). Isso coloca os fabricantes à sombra da legislação americana, que não tem leis federais para restringir ou controlar as vendas de artigos sexuais do tipo.
Outras empresas, porém, jogam às claras. O site urinaultralimpa.com (em tradução livre), por exemplo, promete que “Passar num teste de urina nunca foi tão fácil!”. Já o Resolva Sua Urina Rápido, por sua vez, promete vender a “melhor urina sintética para exames, criada para proteger sua vida privada em exames toxicológicos”. E tem aqueles que se apresentam como “conselheiros sobre testes de drogas”.
De qualquer forma, com a popularização da urina falsa em exames, os Estados de Indiana e New Hampshire proibiram recentemente a comercialização e o porte do líquido que é vendido online por preços que variam entre US$ 15 e US$ 40 dólares (ou R$ 48 e R$ 130 aproximadamente). E tem até a versão desidratada, em pó.
Mas tem mais! Algumas empresas, como o Serious Monkey Business, vendem próteses realistas de pênis! Isso mesmo, você não leu errado – confira na imagem ao lado. Acopladas a bolsas quentes, que supostamente são capazes de driblar os testes feitos com acompanhamento, as próteses são vendidas nas versões “branco”, “bronzeado”, “latino”, “moreno” e “negro” para, segundo a empresa, “combinar com qualquer tom de pele”.
Regulados por uma lei federal de 1988 que visava “proteger empregadores e empregados”, com a garantia de um ambiente de trabalho livre de drogas, os exames, porém, são criticados pela American Civil Rights Union (ACLU). Criada em 1919 para “preservar os direitos individuais e liberdades” dos cidadãos norte-americanos, a ACLU acredita que o acompanhamento de coletas em banheiros é “degradante” e a possibilidade de falhas humanas nos diagnósticos expõe candidatos e funcionários a injustiças. Advogados, ativistas e ONGs dos EUA usam o argumento da proteção da privacidade por entenderem que os exames de drogas feitos por empresas são como uma invasão da intimidade dos candidatos e pedem sua proibição em todo o país.
Testes de urina são os mais comuns para a identificação de drogas como heroína, cocaína e maconha no organismo de candidatos. Mas hoje também podem ser feitos no cabelo ou na saliva.
Fonte: BBC